Afonso Mendes de Besteiros - Todas as cantigas

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Cancioneiros:

B 375
(C 375)

Descrição:

Cantiga de Amor

Refrão

Coitado vivo, há mui gram sazom,
que nunca home tam coitado vi
viver no mundo, des quando naci.
E pero x'as mias coitas muitas som,
5       nom querria deste mundo outro bem
       senom poder negar quem quero bem!
  
Vivo coitado no meu coraçom,
[e] vivo no mundo mui sem prazer,
e as mias coitas nom ouso dizer.
10E meus amigos, se Deus mi perdom,
       nom querria deste mundo outro bem
       senom poder negar quem quero bem!
  
E de chorar quitar-s'-iam os meus
olhos e poderia en perder
15as coitas que a mim Deus faz sofrer.
E meus amigos, se mi valha Deus,
       nom querria deste mundo outro bem
       senom poder negar quem quero bem!
  
E per negá-lo eu cuidaria bem
20a perder coitas e mal que mi vem!


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Cancioneiros:

B 376

Descrição:

Cantiga de Amor

Refrão

Senhor fremosa, vejo-me morrer;
e a mi praz, e mui de coraçom,
co'a mia mort', assi Deus mi perdom,
por aquesto que vos quero dizer:
5       moiro por vós, a que praz, e muit'en,
       de que moir'eu, e praz a mim por en!
  
Per bõa fé, de mia mort'hei sabor,
e bem vos juro que há gram sazom
que rog'a Deus por mort', e por al nom,
10por aquesto que vos digo, senhor:
       moiro por vós, a que praz, e muit'en,
       de que moir'eu, e praz a mim por en!
  
E, per bõa fé, gram sabor per hei
com mia morte, per quant'eu entendi
15que vos prazia; e pois est assi,
muito mi praz polo que vos direi:
       moiro por vós, a que praz, e muit'en,
       de que moir'eu, e praz a mim por en.
  
Ca de viver mais nom m'era mester;
20e praz-mi muit'em morrer des aqui
por vós. E tenho que mi Deus [faz] i
bem, mia senhor, polo que vos disser:
       moiro por vós, a que praz, e muit'en,
       de que moir'eu, e praz a mim por en!
  
25E bem vos juro, senhor, que m'é bem
co'[a] mia morte, pois a vós praz en.


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Cancioneiros:

B 377

Descrição:

Cantiga de Amor

Mestria

Oimais quer'eu punhar de me partir
daqueste mund', e farei gram razom,
poilo leixou a mia senhor, e nom
pud'i viver e fui alhur guarir.
5E por esto quer'eu, por seu amor,
leixá'lo mundo falso, traedor,
desemparado, que me foi falir.
  
E nom haverá pois quen'o servir
com'eu servi, nem tam longa sazom;
10e ficará desemparad'entom,
pois m'end'eu for, que mia senhor fez ir.
E pois que já nom há prez nem valor
eno mundo d'u se foi mia senhor,
Deus me cofonda se eu i guarir!
  
15E pois que eu i mia senhor nom vir,
e vir as outras que no mundo som,
nom me podia dar o coraçom
de ficar i. E por vos nom mentir,
quero-m'end'ir; e pois que m'end'eu for
20daqueste mundo, que est a peor
cousa que sei, querrei-me del riir!


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Cancioneiros:

B 378

Descrição:

Cantiga de Amor

Fragmento

Oimais nom há rem que mi gradecer
a mi a mui fremosa mia senhor
de a servir já, mentr'eu vivo for,
ca, de pram, assi me tem em poder
5que nom poss'end'o coraçom partir;
e pero mi pês, hei-a já de servir.
[...]


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Cancioneiros:

B 379

Descrição:

Cantiga de Amor

Fragmento

Per boa fé, nom sabem nulha rem
das mias coitas os que me vam poer
culpa de m'eu mui cativo fazer
em meus cantares, tanto sei eu bem;
5nem sabem qual coita mi faz sofrer
esta senhor que me tem em poder.
[...]


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Cancioneiros:

B 380

Descrição:

Cantiga de Amor

Fragmento

Cativ'! E sempre cuidarei?
E cuido, se Deus mi perdom!
Ar cuido no meu coraçom
que já per cuidar morrerei;
5e cuido muit'em mia senhor,
ar cuid'em haver seu amor.
[...]


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Cancioneiros:

B 381

Descrição:

Cantiga de Amor

Fragmento

Senhor fremosa, mais de quantas som
donas no mundo, pol'amor de Deus,
doede-vos vós de mim e dos meus
olhos que choram, há mui gram sazom,
5por muito mal, senhor, que a mi vem
por vós, senhor, a que quero gram bem!
[...]


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Cancioneiros:

B 382

Descrição:

Cantiga de Amor

Fragmento

Que sem meu grado me parti
de mia senhor e do meu bem,
que quero melhor doutra rem!
E em grave dia naci
5por eu nunca poder veer,
poila nom vi, nẽum prazer!
[...]


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Cancioneiros:

B 729, V 330
(C 729)

Descrição:

Cantiga de Amigo

Refrão

Fals'amigo, per bõa fé,
m'eu sei que queredes gram bem
outra molher, e por mi rem
nom dades, mais, pois assi é,
5       oimais fazede des aqui
       capa doutra, ca nom de mim.
  
Ca noutro dia vos achei
falar no voss'e nom em al
com outra, e foi m'ende mal,
10mais, pois que a verdade sei,
       oimais fazede des aqui
       capa doutra, ca nom de mim.
  
E quando vos eu vi falar
com outra, log'i bem vi eu
15que seu érades, ca nom meu,
mais quero-vos eu desenganar:
       oimais fazede des aqui
       capa doutra, ca nom de mim.


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Cancioneiros:

B 730, V 331

Descrição:

Cantiga de Amigo

Refrão

Mia madre, venho-vos rogar
como roga filh'a senhor:
o que morre por mi d'amor,
leixade-m'ir co el falar;
5       quanta coita el sigo tem
       sei que toda lhi por mi vem.
  
E sodes desmesurada
que vos nom queredes doer
do meu amigo, que morrer
10vejo, e and'eu coitada;
       quanta coita el sigo tem
       sei que toda lhi por mi vem.
  
Vee-lo-ei eu, per bõa fé,
e direi-lhi tam gram prazer
15per que [m']el dev'a gradecer,
poilo seu mal cedo meu é;
       quanta coita el sigo tem
       sei que toda lhi por mi vem.


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Cancioneiros:

B 731, V 332

Descrição:

Cantiga de Amor

Refrão

Amigos, nunca mereceu
homem, com'eu mereci, mal,
em meu cuidar, ca nom em al;
mais ando-me por en sandeu:
5       por quanto mi faz cuidador
       d'haver eu bem de mia senhor.
  
Mais leixade-mi andar assi!
Pero vós hajades poder,
meus amigos, de me valer,
10sol nom vos doades de mi:
       por quanto mi faz cuidador
       d'haver eu bem de mia senhor.
  
Ca sei que per nẽum logar,
amigos, que nom haverei
15dela bem, por quanto cuidei;
mais leixade-m'assi andar:
       por quanto mi faz cuidador
       d'haver eu bem de mia senhor.
  
Ca o sandeu, quanto mais for
20d'amor sandeu, tant'é milhor.


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Cancioneiros:

B 1558

Descrição:

Cantiga de Escárnio e maldizer

Refrão

Dom Foão, que eu sei que há preço de livão,
vedes que fez ena guerra - daquesto sõo certão:
sol que viu os genetes, come boi que fer tavão,
       sacudiu-se [e] revolveu-se, al-
5       çou rab'e foi sa via a Portugal.
  
Dom Foão, que eu sei que há preço de ligeiro,
vedes que fez ena guerra - daquesto som verdadeiro:
sol que viu os genetes, come bezerro tenreiro,
       sacudiu-se [e] revolveu-se, al-
10       çou rab'e foi sa via a Portugal.
  
Dom Foão, que eu sei que há prez de liveldade,
vedes que fez [e]na guerra - sabede-o por verdade:
sol que viu os genetes, come cam que sal de grade,
       sacudiu-se [e] revolveu-se, al-
15       çou rab'e foi sa via a Portugal.


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Cancioneiros:

B 1559

Descrição:

Cantiga de Escárnio e maldizer

Refrão

Já lhi nunca pediram
o castel'a Dom Foam;
ca nom tinha el de pam
       senom quanto queria;
5e foi-o vender, de pram,
       com mínguas que havia.
  
Por que lh'ides [a]poer
culpa [por] non'[o] teer?
Ca nom tinha que comer
10       senom quanto queria;
e foi-o entom vender
       com mínguas que havia.
  
Travam-lhi mui sem razom
a home de tal coraçom:
15"Em fronteira de Leon",
       diz, "com quen'o terria?"
E foi-o vender entom
       com mínguas que havia.
  
Dizem que lh'a el mais val
20esto que diz, ca nom al:
"Em cabo de Portugal",
       diz, "com quen'o terria?"
E vende[u]-o entom mal
       com mínguas que havia.


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Cancioneiros:

B 1560

Descrição:

Cantiga de Escárnio e maldizer

Refrão

O arrais de Roi Garcia,
que em Leirea tragia,
       desseinou-o;
e pois veo outro dia
5       e enlinhou-o.
  
Nom vos foi el de mal sem:
serviu-se del mui[to] bem,
       desseinou-o;
e pois veo a Santarém
10       e enlinhou-o.
  
Nom vos foi el mui mesquinho:
per como diz Cogominho,
       desseinou-o;
e pois morreu Dom Martinho,
15       enlinhou-o.
  
Ainda vos eu mais direi:
per quant'eu del vej'e sei,
       desseinou-o;
e pois veo a cas del-rei,
20       enlinhou-o.