Afonso Mendes de Besteiros


 Oimais quer'eu punhar de me partir
 daqueste mund', e farei gram razom,
 poilo leixou a mia senhor, e nom
pud'i viver e fui alhur guarir.
5E por esto quer'eu, por seu amor,
leixá'lo mundo falso, traedor,
desemparado, que me foi falir.
  
E nom haverá pois quen'o servir
 com'eu servi, nem tam longa sazom;
10e ficará desemparad'entom,
pois m'end'eu for, que mia senhor fez ir.
E pois que já nom há prez nem valor
eno mundo d'u se foi mia senhor,
 Deus me cofonda se eu i guarir!
  
15E pois que eu i mia senhor nom vir,
e vir as outras que no mundo som,
nom me podia dar o coraçom
de ficar i. E por vos nom mentir,
quero-m'end'ir; e pois que m'end'eu for
20daqueste mundo, que est a peor
cousa que sei, querrei-me del riir!



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Nota geral:

Cantiga de amor com traços de sirventês moral: uma vez que a sua amada partiu deste mundo, o trovador quer igualmente partir. Nada o prende já a este mundo falso e traiçoeiro, a imagem das outras mulheres é-lhe insuportável e a única coisa que fará ao partir é rir-se da vacuidade de tudo.
Pressupõe-se que a partida corresponde à morte (a sua amada terá morrido), mas, não sendo a referência explícita, também não seria impossível que se tratasse de uma entrada num convento (o "mundo" poderia ser entendido então como a sociedade mundana da corte).



Nota geral


Descrição

Cantiga de Amor
Mestria
Cobras uníssonas
(Saber mais)


Fontes manuscritas

B 377

Cancioneiro da Biblioteca Nacional - B 377


Versões musicais

Originais

Desconhecidas

Contrafactum

Desconhecidas

Composição/Recriação moderna

Desconhecidas