Rui Pais de Ribela - Todas as cantigas

Ver com anotações <


Cancioneiros:

A 186, B 337
(C 337)

Descrição:

Cantiga de Amor

Refrão

Por Deus vos quero rogar, mia senhor,
que vos fezo, de quantas donas fez,
a mais fremosa nem de melhor prez:
pois todo bem entendedes, senhor,
5       entended'or'em qual coita me tem
       o voss'amor, porque vos quero bem.
  
E se o vós, mia senhor, entender
esto quiserdes, haveredes i,
a meu cuidar, algum doo de mim;
10pois vos Deus fez tanto bem entender,
       entended'or'em qual coita me tem
       o voss'amor, porque vos quero bem.
  
E mia senhor, tempo seria já
de vos nembrardes de me nom leixar
15em gram coita, com'hoj'eu viv', andar.
E mia senhor, vel por mesura já,
       entended'or'em qual coita me tem
       o voss'amor, porque vos quero bem.


Ver com anotações <


Cancioneiros:

A 187, B 338

Descrição:

Cantiga de Amor

Refrão

Nunc'assi home de senhor
esteve com'hoj'eu estou:
hei, d'ir u ela é, sabor
mais doutra rem; e pois i vou,
5       nom lh'ouso dizer nulha rem,
       pero lhi quero mui gram bem.
  
E cuido-lh'eu sempr'a dizer
quando a vir, per bõa fé,
a coita que me faz haver;
10e pois que vou u ela é,
       nom lh'ouso dizer nulha rem,
       pero lhi quero mui gram bem.
  
Quanta coita e quant'afã
m'ela no mundo faz levar
15bem lhe cuid'eu dizer, de pram;
mais pois m'ant'ela vej'estar,
       nom lh'ouso dizer nulha rem,
       pero lhi quero mui gram bem.


Ver com anotações <


Cancioneiros:

A 188, B 339

Descrição:

Cantiga de Amor

Refrão

De mia senhor entend'eu ũa rem:
ca me quer mal, assi Deus mi perdom!;
mais, pero sei eno meu coraçom
ca mi o nom quer, por que lhe quero bem?
5       Ca me nom quis nunca, nem quer creer,
       per nulha rem, que lhe sei bem querer.
  
Mais quer-me mal polo que vos direi:
porque me diz que lhe faço pesar
de a veer - nunca, nem lhe falar;
10ca me o nom quer por al, eu ben'o sei:
       ca me nom quis nunca, nem quer creer,
       per nulha rem, que lhi sei bem querer.
  
E des quand'ela fosse sabedor
do mui gram bem que lh'eu quis, poila vi,
15pero me mal ar quisesse, des i
terria-m'eu que estava melhor:
       ca me nom quis nunca, nem quer creer,
       per nulha rem, que lhi sei bem querer.


Ver com anotações <


Cancioneiros:

A 189, B 340

Descrição:

Cantiga de Amor

Refrão

Quando vos vi, fremosa mia senhor,
logo vos soube tam gram bem querer
que nom cuidei que houvesse poder,
per nulha rem, de vos querer melhor;
5       e ora já direi-vos que mi avém:
       cada dia vos quero maior bem.
  
E porque vos vi fremoso falar
e parecer, logo vos tant'amei,
senhor fremosa, que assi cuidei
10que nunca vos podesse mais amar;
       e ora já direi-vos que mi avém:
       cada dia vos quero maior bem.
  
Amei-vos tant'u vos primeiro vi
que nunca home, tam de coraçom,
15amou molher; e cuidei eu entom
que maior bem nom havia já i;
       e ora já direi-vos que mi avém:
       cada dia vos quero maior bem.


Ver com anotações <


Cancioneiros:

A 190, B 341

Descrição:

Cantiga de Amor

Refrão

Tam muit'há já que nom vi mia senhor,
e tam coitado fui poila nom vi,
que ũa rem sei eu mui bem de mi:
pero me faz muito mal seu amor,
5       a maior coita, de quantas hoj'hei,
       perderia, se a visse u sei.
  
Pero que m'ela nunca fezo bem
nem mi o fará já, enquant'eu viver,
tam gram sabor hei eu de a veer
10que, se a visse, sei eu ũa rem:
       a maior coita, de quantas hoj'hei,
       perderia, se a visse u sei.
  
E vej'a muitos aqui razõar
que é mais grave coita de sofrer
15vee-la hom'e rem nom lhe dizer;
mais pero lh'eu nom ousasse falar,
       a maior coita, de quantas hoj'hei,
       perderia, se a visse u sei.


Ver com anotações <


Cancioneiros:

A 191, B 342

Descrição:

Cantiga de Amor

Refrão

Um dia que vi mia senhor
quis-lhe dizer o mui gram bem
que lh'eu quer'e como me tem
forçad'e preso seu amor;
5       e vi-a tam bem parecer
       que lhe nom pude rem dizer.
  
Quant'eu puge no coraçom
me fez ela desacordar,
ca, se lh'eu podesse falar,
10quisera-lhe dizer entom;
       e vi-a tam bem parecer
       que lhe nom pude rem dizer.
  
Seu medo, poila vi atal,
que houve, me tolheu assi,
15ca lhe quisera falar i
de como me faz muito mal;
       e vi-a tam bem parecer
       que lhe nom pude rem dizer.
  
Pero m'ela nom tem por seu,
20mui gram verdade vos direi:
meu mal est e quanto bem hei;
e fora polo dizer eu
       e vi-a tam bem parecer
       que lhi nom pudi rem dizer.


Ver com anotações <


Cancioneiros:

A 192, B 343

Descrição:

Cantiga de Amor

Refrão

Tanto fez Deus a mia senhor de bem
sobre quantas no mundo quis fazer,
que vos direi eu ora que mi avém:
pero m'eu vejo por ela morrer,
5       nom querria das outras a melhor
       eu querer bem, por haver seu amor
  
e nom amar mia senhor, que eu vi
tam fremosa e que tam muito val
e em que eu tanto bem entendi;
10pero que punha de mi fazer mal,
       nom querria das outras a melhor
       eu querer bem, por haver seu amor,
  
pero que dela eu nẽum bem nom hei
e assi moir'e me nom tem por seu,
15tam muito val sobre quantas eu sei
que, pois mi Deus tam bõa senhor deu,
       nom querria das outras a melhor
       eu querer bem, por haver seu amor,
  
ca me faz Deus tam bõa don'amar,
20que me val mais vee-la ũa vez
que quanto bem m'outra podia dar;
e poila Deus tam bõa fez,
       nom querria das outras a melhor
       eu querer bem, por haver seu amor.


Ver com anotações <


Cancioneiros:

A 193, B 344

Descrição:

Cantiga de Amor

Refrão

A mia senhor, a que eu sei querer
melhor ca nunca quis hom'a molher,
poila tant'amo e mi o creer nom quer,
Nostro Senhor, que há mui gram poder,
5       me dê seu bem, se lh'eu quero melhor
       ca nunca quis no mund'hom'a senhor.
  
E se nom, E[le] me leixe prender
por ela morte, ca nom m'é mester
d'eu viver mais, se seu bem nom houver;
10mais Deus, que pod'a verdade saber,
       me dê seu bem, se lh'eu quero melhor
       ca nunca quis no mund'hom'a senhor.
  
Porque lhe fez as do mundo vencer
de mui bom prez e do que vos disser:
15de parecer mui bem u estever,
Deus, que lhe fez tam muito bem haver,
       me dê seu bem, se lh'eu quero melhor
       ca nunca quis no mund'hom'a senhor.


Ver com anotações <


Cancioneiros:

A 194, B 345

Descrição:

Cantiga de Amor

Refrão

Quant'eu mais donas mui bem parecer
vej'u eu and'e entendo ca som
mui boas donas, se Deus me perdom,
e quantas donas mais posso veer,
5       atant'eu mais desejo mia senhor
       e atant'entendo mais que é melhor.
  
E mia senhor, a quen'a Deus mostrar,
u vir, das outras, as que ham mais bem,
bem verá que cab'ela nom som rem;
10e quant'eu ouç'as outras mais loar,
       atant'eu mais desejo mia senhor
       e atant'entendo mais que é melhor.
  
E Deus Senhor que lhe tanto bem fez,
u a juntar com quantas no mund'há
15das melhores, tant'ela mais valrá;
e quant'eu vej'as outras mais de prez
       atant'eu mais desejo mia senhor
       e atant'entendo mais que é melhor.


Ver com anotações <


Cancioneiros:

A 195, B 346

Descrição:

Cantiga de Amor

Refrão

A mia senhor, que mui de coraçom
eu amei sempre des quando a vi,
pero me vem por ela mal des i,
é tam bõa, que Deus nom mi perdom,
5       se eu querria no mundo viver
       por lhe nom querer bem nen'a veer.
  
Pero dela nom atendo outro bem,
ergo vee-la mentr'eu vivo for;
mais porque amo tam boa senhor,
10Deus nom mi a mostre, que a 'm poder tem,
       se eu querria no mundo viver
       por lhe nom querer bem nem a veer.
  
Porque desejo de vee'los seus
olhos tam muito que nom guarrei já;
15e porque antre quantas no mund'há
val tam muito, que nom me valha Deus,
       se eu querria no mundo viver
       por lhe nom querer bem nem a veer.


Ver com anotações <


Cancioneiros:

A 196, B 347

Descrição:

Cantiga de Amor

Refrão

Os que mui gram pesar virom, assi
com'eu vejo da que quero gram bem,
porque sei eu ca morrerom por en,
maravilhado me faço per mi:
5       pois todo vejo quanto receei,
       como nom moiro, se de morrer hei?
  
Da mia senhor e do meu coraçom
(porque me Deus já todo faz veer
per quant'eu logo devera morrer),
10meravilho-me e faço gram razom:
       pois todo vejo quanto receei,
       como nom moiro, pois a morrer hei?
  
Porque cuidava, se visse um pesar
de quantos vej'ora de mia senhor,
15que morreria en polo mẽor,
dereito faç'em me maravilhar:
       pois todo vejo quanto receei,
       como nom moiro, pois a morrer hei?
  
E pois me nom pod'a coita que hei
20nem Deus matar, jamais nom morrerei.


Ver com anotações <


Cancioneiros:

A 197, B 348

Descrição:

Cantiga de Amor

Mestria

A guarir nom hei per rem,
se nom vir a que gram bem
quero, ca perço o sem:
poila nom vejo, me vem
5tanto mal que nom sei quem
mi o tolha, pero mi al dem;
mais Deus mi a mostre por en
cedo, que a em poder tem.
  
E se eu mia senhor vir,
10a que me tolh'o dormir,
se eu ousasse, pedir-
lh'-ia logo que guarir
me leixass'u a servir
podess'eu; mais consentir
15nom mi o querrá nem oir,
mais leixar-m'-á morrer ir.


Ver com anotações <


Cancioneiros:

A 198, B 349

Descrição:

Cantiga de Amor

Refrão, refrão inicial

       Par Deus, ai dona Leonor,
       gram bem vos fez Nostro Senhor!
  
Senhor, parecedes assi
tam bem que nunca tam bem vi;
5e gram verdade vos dig'i,
que nom poderia maior:
       par Deus, ai dona Leonor,
       gram bem vos fez Nostro Senhor!
  
E Deus, que vos em poder tem,
10tam muito vos fezo de bem
que nom soub'El no mundo rem
por que vos fezesse melhor:
       par Deus, ai dona Leonor,
       gram bem vos fez Nostro Senhor!
  
15Em vós mostrou El seu poder,
qual dona sabia fazer,
de bom prez e de parecer
e de falar fez-vos, senhor:
       par Deus, ai dona Leonor,
20       gram bem vos fez Nostro Senhor!
  
Com'antr'as pedras bom rubi
sodes, antre quantas eu vi,
e Deus vos fez por mal de mi,
que há comigo desamor:
25       par Deus, ai dona Leonor,
       gram bem vos fez Nostro Senhor!


Ver com anotações <


Cancioneiros:

V 1026
(C 1417)

Descrição:

Cantiga de Escárnio e maldizer

Refrão

Mala ventura me venha,
se eu pola de Belenha
       d'amores hei mal.
  
E cofonda-me Sam Marcos,
5se pola donzela d'Arcos
       d'amores hei mal.
  
Mal mi venha cada dia,
se eu por Dona Maria
       d'amores hei mal.
  
10Fernand'Escalho me pique,
se eu por Sevilh'Anrique
       d'amores hei mal.


Ver com anotações <


Cancioneiros:

V 1027

Descrição:

Cantiga de Escárnio e maldizer

Refrão

Vem um ric'home das truitas
que compra duas por muitas,
       e coz'end'a ũa.
  
Por quanto xi querem nenas,
5compra en duas pequenas,
       e coz'end'a ũa.
  
Vendem cem truitas vivas,
e compra en duas cativas,
       e coz'end'a ũa.
  
10E u as vendem bolindo,
vai-s'en com duas riindo
       e coz'end'a ũa.


Ver com anotações <


Cancioneiros:

B 1435, V 1045

Descrição:

Cantiga de Escárnio e maldizer

Refrão

A donzela de Biscaia
ainda mi a preito saia
       de noit'ou lũar!
  
Pois m'agora assi desdenha,
5ainda mi a preito venha
       de noit'ou lũar!
  
Pois dela sõo maltreito,
ainda mi venha a preito
       de noit'ou lũar!


Ver com anotações <


Cancioneiros:

B 1436, V 1046

Descrição:

Cantiga de Escárnio e maldizer

Refrão

Preguntad'um ric'home
mui rico, que mal come:
       por que o faz?
  
El de fam'e de sede
5mata home, ben'o sabede.
       Por que o faz?
  
Mal com'e faz nemiga;
dizede-lhi que diga
       porque o faz.


Ver com anotações <


Cancioneiros:

B 1437, V 1047

Descrição:

Cantiga de Escárnio e maldizer

Refrão, refrão inicial

       Um ric'homaz, um ric'homaz,
       que de maos jantares faz!
  
Quanta carne manda cozer,
quand'home vai pola veer,
5se s'ante muito nom merger,
sol nom pode veer u jaz.
       Um ric'homaz, um ric'homaz,
       que de maos jantares faz!
  
Quem vee qual cozinha tem
10de carne, se s'i nom detém,
nom poderá estremar bem
se x'est carne, se pescaz.
       Um ric'homaz, um ric'homaz,
       que de maos jantares faz!


Ver com anotações <


Cancioneiros:

B 1438, V 1048

Descrição:

Cantiga de Escárnio e maldizer

Refrão

Comendador, u m'eu quitei
de vós e vos encomendei
a mia molher, per quant'eu sei
que lhi vós fezestes d'amor,
5       tenhades vós, comendador,
       comendad'o Demo maior.
  
Ca muito a fostes servir,
nom vo-lo poss'eu gracir;
mais, poila vós fostes comprir
10de quant'ela houve sabor,
       tenhades vós, comendador,
       comendad'o Demo maior.
  
E dizer-vos quer'ũa rem:
ela por servida se tem
15de vós; e, pois que vos quer bem
como quer a mim ou melhor,
       tenhades vós, comendador,
       comendad'o Demo maior.


Ver com anotações <


Cancioneiros:

B 1439, V 1049

Descrição:

Cantiga de Escárnio e maldizer

Refrão, Dialogada

– Maria Genta, Maria Genta da saia cintada,
u masestes esta noit'ou quem pôs cevada?
       Alva, abríades-m'alá!
  
– Albergámos eu e outra [e]na carreira,
5e rapazes com amores furtam ceveira.
       Alva, abríades-m'alá!
  
U eu maj'aquesta noite, houv'i gram cea,
e rapazes com amores furtam avea.
       Alva, abríades-m'alá!


Ver com anotações <


Cancioneiros:

B 1440, V 1050
(C 1440)

Descrição:

Cantiga de Escárnio e maldizer

Refrão

Meu senhor, se vos aprouguer,
       comendador, dade-mi mia molher;
e se vo-la eu outra vez ar der,
dê-mi Deus muita de maa ventura.
5       Comendador, dade-mi mia molher
       que vos dei, e fazede mesura.
  
De fazer filhos m'é mester:
       comendador, dade-mi mia molher,
e dar-vos-ei [eu] outra d'Alanquer
10em que percades a caentura.
       Comendador, dade-mi mia molher
       que vos dei, e fazede mesura.