Airas Nunes
Trovador medieval


Nacionalidade: Galega

Notas biográficas:

Clérigo (como nos informa a rubrica atributiva das suas composições), certamente galego, cuja atividade se situará nos finais do reinado de Afonso X e inícios do reinado de Sancho IV (1284-1289). Na verdade, por três documentos da chancelaria deste último monarca, ficamos a saber que, em 1284, Airas Nunes terá sido beneficiado com duas quantias em dinheiro para a compra de um cavalo e de roupas, doação que parece relacionar-se com a cena de violência que nos relata numa das suas cantigas. A levarmos em conta a referência que nessa mesma cantiga faz aos seus cabelos canos, já não seria um jovem por essa época. Pelo menos duas outras composições suas podem igualmente ser datadas: a cantiga de amigo em faz referência à peregrinação de Sancho IV a Santiago (1286), e a cantiga de escárnio em que refere o conflito entre D. Sancho e os infantes de La Cerda (1289), e onde defende claramente as posições do rei castelhano.
Confirmando estes dados, mas acrescentando muitos outros, José António Souto Cabo, num recente e bem documentado trabalho de investigação1, lança uma nova luz sobre a biografia do trovador. Airas Nunes pode assim ser identificado com o clérigo do mesmo nome que surge, embora de forma descontínua, em numerosos documentos da Sé de Lugo e do mosteiro de Ferreira de Palhares, no período que vai de 1250 a 1292. Essa proximidade à Sé de Lugo ficará a dever-se ao facto de ser sobrinho de uma importante figura dessa instituição, o cónego e notário Fernando Pais (1235-1272), e primo do seu sucessor, o filho Paio Fernandes (m.1298). Com eles se terá exercitado desde cedo no ofício de escrivão, que exercerá depois na corte castelhana (devendo a sua presença intermitente em Lugo ficar a dever-se a estas ausências na corte). Por uma escritura datada de 1289, sabemos ainda que que fazia então parte do séquito do bispo eleito de Lugo, Fernando Peres de Páramo (1286-1294). A estas sua relações familiares e institucionais deverá porventura o facto de, no final da vida, ter sido nomeado clérigo da paróquia de Tirimol (Lugo), cargo que não exigiria a sua presença, mas seria essencialmente uma prebenda.
Já na documentação de Sancho IV, e para além dos três documentos conhecidos acima citados, Souto Cabo localizou mais outros dois onde surge o nome de Airas Nunes, e nos quais é explicitamente identificado como escrivão (num deles) e trovador (no outro).
Na documentação de Lugo, é referido que morreu a 28 de julho, mas de um ano não especificado, que Souto Cabo situa num arco que vai de 1292 a 1312, sendo a data provável a primeira década do século XIV.
Trovador culto, como nos indicam o seu perfeito domínio das formas e ainda o seu gosto pela citação (nomeadamente provençal), Airas Nunes colaborou ainda decerto na escrita das Cantigas de Santa Maria, o que é comprovado pela dupla presença do seu nome no Códice dos Músicos.


Referências

1 Souto Cabo, José António (2023), “Ca o vej’eu assaz om’ordinhado. Airas Nunes no “coro” clerical trovadoresco”, en Madrygal. Revista de Estudios Gallegos 26.
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Cantigas (por ordem alfabética):


A Santiag'em romaria vem
Cantiga de Amigo

Achou-s'um bispo que eu sei um dia
Cantiga de Escárnio e maldizer

Amor faz a mim amar tal senhor
Cantiga de Amor

- Bailade hoje, ai filha, que prazer vejades
Cantiga de Amigo

Bailemos nós já todas três, ai amigas
Cantiga de Amigo

Desfiar enviarom ora de Tudela
Escárnio e Maldizer

Falei noutro dia com mia senhor
Cantiga de Amor

Nostro Senhor! e por que foi veer
Cantiga de Amor

O meu senhor o bispo, na Redondela, um dia
Escárnio e Maldizer

Oí hoj'eu ũa pastor cantar
Pastorela

Par Deus, coraçom, mal me matades
Cantiga de Amor

Porque no mundo mengou a verdade
Sirventês moral

Que muito m'eu pago deste verão
Cantiga de Amor

Vi eu, senhor, vosso bom parecer
Cantiga de Amor