Nota geral: Nesta cantiga, cujas circunstâncias históricas exatas nos escapam, Airas Nunes relata o que Lapa chama "uma cena de violência tipicamente medieval"1;. A dita cena, um ataque noturno a uma companhia em fuga, ter-se-á passado com o bispo de Tui, como supõe Carolina Michaelis2, talvez por volta de 1283-84 (sendo nessa altura bispo Fernando Airas, que ocupou o cargo de 1276 a 1285). Fosse qual fosse o bispo e os motivos da sua fuga, o certo é que a vítima parece ter sido o próprio trovador, que estaria ao seu serviço, a acreditarmos no que relata a cantiga, dita na primeira pessoa. Não deixa de ser um pouco estranha esta confissão das sevícias e insultos sofridos. No entanto, em 1284, como indica Resende de Oliveira3, D. Sancho IV de Castela manda entregar a Airas Nunes uma soma de dinheiro para comprar um cavalo e vestuário, doação que poderá relacionar-se com a cena aqui descrita. Acrescente-se que a lição dos códices está bastante danificada nas duas últimas estrofes, o que não facilita as coisas.
Referências 1 Lapa, Manuel Rodrigues (1970), Cantigas d´Escarnho e de Maldizer dos Cancioneiros Medievais Galego-Portugueses, 2ª Edição, Vigo, Editorial Galaxia.
2 Vasconcelos, Carolina Michaëlis de (2004), "O romance de D. Fernando", in Glosas Marginais ao Cancioneiro Medieval Português (trad. do texto de 1905) , Coimbra, Acta Universitatis Conimbrigensis, p. 324, nota 35.
3 Oliveira, António Resende de (1994), Depois do espectáculo trovadoresco. A estrutura dos cancioneiros peninsulares e as recolhas dos séculos XIII e XIV, Lisboa, Edições Colibri.
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