Pero Garcia Burgalês
Trovador ou Jogral medieval


Nacionalidade: Castelhana

Notas biográficas:

Trovador ou jogral castelhano, certamente natural de Burgos, como o seu nome indica. Até há pouco tempo, quase nada se sabia sobre a sua biografia, exceto o que se pode deduzir das suas composições, que no-lo mostram integrado na geração dos trovadores que rodeiam Afonso X (infante e rei). Recentemente, no entanto, Ron Fernández1 trouxe a público alguns documentos que lhe dirão respeito, um deles, relacionado com um Pero Garcia e anterior a 1250, dando-o como habitante de Santo Domingo de la Calzada (a leste de Burgos), os outros dois, datados com maior precisão, dizendo respeito a terras recebidas nos repartimentos de Valencia (1238) e de Xerez (1264), o que parece corresponder ao arco cronológico do que poderá ter sido o seu período de atividade trovadoresca.
Acrescente-se que no testamento do Conde D. Pedro de Barcelos (1350) é referido um Pero Garcia, jogral de Burgos, sogro de um homem chamado Aparizio Pérez a quem D. Pedro devia 1500 maravedis (o nome do jogral servindo para identificar este Aparízio), ambos já mortos à data do testamento. Embora D. Carolina Michaëlis3 pense que não poderemos identificar o Burgalês com este "jogral tardio de Burgos" (a classificação "tardio" é de D. Carolina), não nos parece completamente impossível, sobretudo atendendo à função que o nome do jogral desempenha no documento, e que parece indicar tratar-se de uma figura de uma geração anterior mas ainda bem conhecida (pelo menos no ambiente trovadoresco que era o de D. Pedro).
Numa outra ordem de ideias, acrescente-se ainda uma sugestão de Joaquim Ventura2, que talvez seja plausível: a de Pero Garcia Burgalês poder ser igualmente o Pedro Agudo, jogral de Burgos satirizado (como "cornudo") em duas cantigas de Pero da Ponte (1, 2) e aludido ainda numa outra de Gonçalo Anes do Vinhal. A ser assim, e apesar da preferência que o Burgalês parece demonstrar pelo género culto que é a cantiga de amor, a sua condição de jogral seria certa (vindo ao encontro do Pedro Garcia, jogral, referido no testamento de D. Pedro).


Referências

1 Ron Fernández, Xavier (2005), “Carolina Michaelis e os trobadores representados no Cancioneiro da Ajuda”, in Carolina Michaelis e o Cancioneira da Ajuda hoxe, Santiago de Compostela, Xunta de Galicia.
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2 Ventura, Joaquim (2000), “Pedr'Agudo: insult generic o sàtira contra Pedro Garcia Burgalés?”, Actas del VIII Congreso Internacional de la Asociacion Hispanica de Literatura Medieval (1999), Santander.

3 Vasconcelos, Carolina Michaëlis de (1990), Cancioneiro da Ajuda, vol. II, Lisboa, Imprensa nacional - Casa da Moeda (reimpressão da edição de Halle, 1904), p. 345.

Ler todas as cantigas (por ordem dos cancioneiros)


Cantigas (por ordem alfabética):


Ai Deus! Que grave coita de sofrer:
Género incerto

Ai eu coitad'! e por que vi
Cantiga de Amor

Ai eu coitado! e quand'acharei quem
Cantiga de Amor

Ai eu! que mal dia naci
Cantiga de Amor

Ai madre, bem vos digo
Cantiga de Amigo

Ai mia senhor e meu lum'e meu bem!
Cantiga de Amor

Cuidava-m'eu que amigos havia
Cantiga de Amor

D'ũa cousa sõo maravilhado
Cantiga de Escárnio e maldizer

De quantos mui coitados som
Cantiga de Amor

Dom Fernando, pero mi maldigades
Cantiga de Escárnio e maldizer

Dona Maria Negra, bem talhada
Cantiga de Escárnio e maldizer

Eu me cuidava, quando nom podia
Cantiga de Amor

Fernam Díaz, este que and'aqui
Cantiga de Escárnio e maldizer

Fernand'Escalho leixei mal doente
Cantiga de Escárnio e maldizer

Fernand'Escalho vi eu cantar bem
Cantiga de Escárnio e maldizer

Já eu nom hei oimais por que temer
Escárnio e Maldizer

Joana, dix'eu, Sancha e Maria
Género incerto

Mais de mil vezes cuid'eu eno dia
Cantiga de Amor

Maria Balteira, porque jogades
Cantiga de Escárnio e maldizer

Maria Negra des[a]ventuirada!
Cantiga de Escárnio e maldizer

Maria Negra vi eu, em outro dia
Cantiga de Escárnio e maldizer

Mentre nom soube por mim mia senhor
Cantiga de Amor

Meus amigos, direi-vos que m'avém
Cantiga de Amor

Meus amigos, oimais quero dizer
Cantiga de Amor

Moir'eu e praz-me, se Deus me perdom!
Cantiga de Amor

Nom me poss'eu, mia senhor, defender
Cantiga de Amor

Nom vos nembra, meu amigo
Cantiga de Amigo

Nostro Senhor! e por que mi fezestes
Cantiga de Amor

Nostro Senhor, que bem alberguei
Cantiga de Escárnio e maldizer

Nunca Deus quis nulha cousa gram bem
Escárnio e Maldizer

Ora vej'eu que fiz mui gram folia
Género incerto

Ora vej'eu que xe pode fazer
Cantiga de Amor

Par Deus, senhor, já eu nom hei poder
Cantiga de Amor

Pero me vós, donzela, mal queredes
Cantiga de Escárnio e maldizer

Pois contra vós nom me val, mia senhor
Cantiga de Amor

Pola verdade que digo, senhor
Cantiga de Amor

Por mui coitado per tenh'eu
Cantiga de Amor

Qual dona Deus fez melhor parecer
Cantiga de Amor

Quantos hoj'eu com amor sandeus sei
Cantiga de Amor

Que alongad'eu ando d'u iria
Cantiga de Amor

Que muit'há já que a terra nom vi
Cantiga de Amor

Que muito mi de Fernam Diaz praz
Cantiga de Escárnio e maldizer

Que muitos [os] que mi andam preguntando
Género incerto

- Quero que julguedes, Pero Garcia
Tenção

Roi Queimado morreu com amor
Cantiga de Escárnio e maldizer

Se Deus me valha, mia senhor
Cantiga de Amor

Se eu a Deus algum mal mereci
Cantiga de Amor

Se eu soubesse, u eu primeiro vi
Cantiga de Amor

Senhor fremosa, pois vos vi
Cantiga de Amor

Senhor fremosa, venho-vos dizer
Cantiga de Amor

- Senhor, eu quer'ora de vós saber
Tenção de amor

Senhor, per vós sõo maravilhado
Cantiga de Amor

Senhor, queixo-me com pesar
Cantiga de Amor