Pero Mafaldo


Maria Pérez, and'eu mui coitado
  por vós, de pram, mais ca por outra rem,
e vós cuidades que hei de vós bem,
que eu nom hei de vós, mao pecado:
 5ca mi fazedes vós em guisa tal
bem, mia senhor, que depois é meu mal;
e de tal bem nom sõo eu pagado.
  
D'haver de vós bem and'eu alongado,
 pero punhades vós em mi o fazer
10quanto podedes, a vosso poder;
 demais, fostes ogan'a meu mandado,
por mi fazerdes [i] bem e amor:
e com tal bem qual eu entom, senhor,
houvi de vós, mal dia eu fui nado.
  
15Em ũa noite o tive chegado;
diss'eu entom com'agora vos direi:
"Bom grad'a Deus, ca já agora haverei
o bem porque andava em cuidado".
E vós entom guisastes-mi-o assi,
20que mi valvera muito mais a mi
jazer mort[o], ou seer enforcado.
  
E se muit'aquesto mi há-de durar
vosco, senhor, devia-m'a matar
 ant'ou seer ao Dem'encomendado.



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Nota geral:

Também Pero Mafaldo entra no coro de chacotas à célebre soldadeira Maria Pérez Balteira, com esta cantiga, em forma de escárnio de amor, que joga com a antítese bem/mal: o bem dispensado pela senhora (e o bem é, no caso, muito físico) é o mal do servidor. Se bem que o significado concreto desde "mal" não seja totalmente claro, é provável, como pensa Rodrigues Lapa1, que o trovador se esteja a referir a uma qualquer doença venérea. Note-se, de qualquer forma, que a cantiga é um equívoco perfeito, a leitura "inocente" sendo que a soldadeira não lhe quis fazer o "bem" que ele pretende.

Referências

1 Lapa, Manuel Rodrigues (1970), Cantigas d´Escarnho e de Maldizer dos Cancioneiros Medievais Galego-Portugueses, 2ª Edição, Vigo, Editorial Galaxia.



Nota geral


Descrição

Cantiga de Escárnio e maldizer
Mestria
Cobras singulares (rima a uníssona)
Finda
(Saber mais)


Fontes manuscritas

B 1513
(C 1513)

Cancioneiro da Biblioteca Nacional - B 1513


Versões musicais

Originais

Desconhecidas

Contrafactum

Desconhecidas

Composição/Recriação moderna

Desconhecidas