Pero Mafaldo
Trovador medieval


Nacionalidade: Portuguesa?

Notas biográficas:

Trovador provavelmente português, documentado a partir do segundo quartel do século XIII, e que Resende de Oliveira1 identifica como pertencente à linhagem dos Mafaldo, referida nos Livros de Linhagens, e originária da região de Ponte de Lima. Esta identificação, diga-se, contradiz a proposta por Vicenç Beltran2, e segundo a qual teríamos que ver em Pero Mafaldo um jogral galego atestado na Catalunha, como um dos beneficiados do Repartimento de Valencia. As bases em que Beltran se apoia para esta identificação - a referência à partida do seu amigo para a Catalunha, feito pela voz feminina numa das suas cantigas de amigo e a existência de um Pedro, juglar de Galicia no citado Repartimento - parecem-nos, no entanto, relativamente frágeis, sobretudo atendendo ao facto de que o português Pero Mafaldo parece ter viajado também para a Catalunha, como sugere ainda Resende de Oliveira.
Assim, segundo a proposta de identificação deste investigador, assente em dados documentais relativos a um Pero Mafaldo que se move em ambiente trovadoresco, o trovador seria, pois, o filho de Mem Pais Mafaldo, perfilhado por uma Maria Leda, de quem herda os bens. Em 1239, Pero Mafaldo testemunha, com outros cavaleiros, entre os quais João de Guilhade, uma doação à sé do Porto, feita por D. Elvira de Sousa e seu filho, D. Gonçalo Garcia. Tal como acontece em relação a Guilhade, Pero Mafaldo parece, pois, mover-se no círculo dos Sousa, sendo plausível que também ele tenha acompanhado o percurso inicial de D. Gonçalo Garcia nas suas deambulações peninsulares da primeira metade do século XIII. Teria, nessas circunstâncias frequentado a corte castelhana de Fernando III e muito possivelmente, em momento anterior, a corte aragonesa de Jaime I, eventualmente por alturas da conquista de Maiorca (1232). Na verdade, e ainda segundo dados de Resende de Oliveira, sendo este percurso inicial de D. Gonçalo algo obscuro, é muito possível que seja exatamente ele o Gonçalo Garcia documentado como um dos beneficiados no Repartimento desta ilha. De resto, Pero Mafaldo frequentou certamente também a corte castelhana, como se depreende das cantigas que dirige a Maria Balteira e a Pero d'Ambroa, a soldadeira e o jogral tão satirizados no círculo de Afonso X (talvez ainda infante).
Com a subida ao trono de Afonso III e o regresso a Portugal dos Sousa, o trovador deverá ter igualmente regressado. Assim, um Pero Mafalto continua a estar documentado em 1265, pelo menos, agora em Portugal, e ligado a D. João Peres de Aboim, rico-homem, trovador e uma das figuras centrais da corte de Afonso III. A ser ainda o trovador, parece ter-se fixado pela zona de Santarém, onde possuía alguns bens. Desconhecemos a data da sua morte.


Referências

1 Oliveira, António Resende de (1994), Depois do espectáculo trovadoresco. A estrutura dos cancioneiros peninsulares e as recolhas dos séculos XIII e XIV, Lisboa, Edições Colibri.

2 Beltran, Vicenç (2005), La corte de Babel. Lenguas, poética y política en la España del siglo XIII, Madrid, Bredos, pp. 263-270.
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Cantigas (por ordem alfabética):


A mia senhor, que eu por meu mal vi
Cantiga de Amor

Ai amiga, sempr'havedes sabor
Cantiga de Amigo

Ai mia senhor! Vêm-me conselhar
Cantiga de Amor

Maria Pérez, and'eu mui coitado
Cantiga de Escárnio e maldizer

O meu amig', amiga, que me gram bem fezia
Cantiga de Amigo

Pero d'Ambroa, haveredes pesar
Cantiga de Escárnio e maldizer

Senhor do mui bom parecer
Cantiga de Amor

- Senhor, por vós e polo vosso bem
Cantiga de Amor

Vej'eu as gentes andar revolvendo
Sirventês moral