Lopo Lias - Todas as cantigas

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Cancioneiros:

B 1338, V 945
(C 1338)

Descrição:

Cantiga de Escárnio e maldizer

Refrão

Rubrica:

Dom Lopo Lias trobou a uns cavaleiros de Lemos, e eram quatro irmãos e andavam sempre mal guisados; e por en trobou-lhis estas cantigas

Da esteira vermelha cantarei
e das mangas do ascari farei
[..................................]
       e da sela que lh'eu vi, rengelhosa,
5       que já lh'ogano rengeu ant'el-rei
       ao zevrom, e pois ante sa esposa.
  
Da esteira cantarei, des aqui,
e das mangas grossas do ascari,
e o brial enmentar-vo-l'-ei i
10       e da sela que lh'eu vi, rengelhosa,
       que já lh'ogano rengeu ant'el-rei
       ao zevrom, e pois ante sa esposa.


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Cancioneiros:

B 1339, V 946

Descrição:

Cantiga de Escárnio e maldizer

Refrão

Tercer dia ante Natal,
[o] de Lemos lhi foi dar
       um brial a mia senhor bela;
       e ao zevrom renge-lh'a sela.
5       Um brial a mia senhor bela,
       e ao zevrom renge-lh'a sela.
  
Sei eu um tal cavaleiro
que lhi talhou em Janeiro
       um brial a mia senhor bela;
10       e ao zevrom renge-lh'a sela.
       Um brial a mia senhor bela,
       e ao zevrom renge-lh'a sela.
  
Filhou-lh'o manto caente
e talhou-lho em Benavente
15       um brial a mia senhor bela;
       e ao zevrom renge-lh'a sela.
       Um brial a mia senhor bela,
       e ao zevrom renge-lh'a sela.


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Cancioneiros:

B 1340, V 947

Descrição:

Cantiga de Escárnio e maldizer

Refrão

Enmentar quer'eu do brial
que o infançom, por Natal,
deu a sa molher, e fez mal:
a gram traiçom a matou
5       que lhi no Janeiro talhou
       brial e lh'o manto levou.
  
O infançom cam, o d'Alvam,
de muitos é homeziam,
se for d'ant'el-rei lhi diram,
10ca fremosa dona matou
       que lhi no Janeiro talhou
       brial e lh'o manto levou.
  
Brialhesta, vai-te daqui
u for Lopo Lias, e di
15que faça i cobras por mi
ao que a dona matou
       que lhi no Janeiro talhou
       brial e lh'o manto levou.
  
Bem t'ajudarám d'Orzelhom
20quantos trobadores i som
a escarnir o infançom,
ca fremosa dona matou
       que lhi no Janeiro talhou
       brial e lh'o manto levou.


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Cancioneiros:

B 1341, V 948

Descrição:

Cantiga de Escárnio e maldizer

Refrão

A mi quer mal o infançom,
a mui gram tort'e sem razom,
por trobadores d'Orzelhom
que lhi cantam a seu brial;
5       e pesa-m'en e é-mi mal
       que lh'escarnirom seu brial
       que era nov'e de cendal.
  
Quantos hoj'em Galiza som,
atá em terra de Leon,
10todos com o brial "colhom"
dizem, e fazem-no mui mal;
       e pesa-m'en e é-mi mal
       que lh'escarnirom seu brial
       que era nov'e de cendal.
  
15E seu irmão, o zevrom,
que lhi quer mal de coraçom
porque lhi reng'o selegom
- e, se lhi renge, nom m'en cal;
       e pesa-m'en e é-mi mal
20       que lh'escarnirom seu brial
       que era nov'e de cendal.


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Cancioneiros:

B 1342, V 949

Descrição:

Cantiga de Escárnio e maldizer

Cantiga de seguir

Em este som de negrada
farei um cantar
d'ũa sela canterlada,
liada mui mal;
5esté a sela pagada,
e direi do brial:
       - Todos: "Colhom, colhom, colhom
       com aquel brial de Sevilha
       que aduss'o infançom
10       aqui, por maravilha".
  
En'este som de negrada
um cantar farei
d'ũa sela canterlada
que vi ant'el-rei;
15esté a sela pagada,
e do brial direi:
       - Todos:"Colhom, colhom, colhom
       com aquel brial de Sevilha
       que aduss'o infançom
20       aqui, por maravilha".
  
Logo fui maravilhado
polo ascari,
e assi fui espantado
polo soceri;
25vi end'o brial talhado
e dixi-lh'eu assi:
       - Todos: "Colhom, colhom, colhom
       com aquel brial de Sevilha
       que aduss'o infançom
30       aqui, por maravilha".


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Cancioneiros:

B 1343, V 950

Descrição:

Cantiga de Escárnio e maldizer

Refrão

Desto som os zevrões
de ventura minguada:
ergem-se nos arções
da sela canterlada
5e dam dos nadigões;
e diss'a bem talhada:
       - Maa sela tragedes,
       por que a nom odedes?
       Maa sela levades,
10       por que a nom atades?
  
Desto som os zevrões
de ventura falida:
ergem-se nos arções
da sela come podrida,
15e dam dos nadigões;
e disse-lh'a velida:
       - Maa sela tragedes,
       por que a nom odedes?
       Maa sela levades,
20       por que a nom atades?
  
Direi-vos que lh'eu ouço:
em dia de sa voda,
ao lançar do touço,
da sela rengelhosa,
25feriu de cu a bouço;
e disse-lh'a fermosa:
       - Maa sela tragedes,
       por que a nom odedes?
       Maa sela levades,
30       por que a nom atades?


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Cancioneiros:

B 1344, V 951

Descrição:

Cantiga de Escárnio e maldizer

Refrão

Os zevrões forom buscar
Rodrigo, polo matar;
mais oíu-lhes el cantar
       as selas, por que guariu:
5       polas selas que lh'oíu
       renger, por essas guariu.
  
Nom lhis guarira per rem,
a torto que lhis tem;
mais rengerom, por seu bem,
10       as selas, por que guariu:
       polas selas que lh'oíu
       renger, por essas guariu.
  
Nom lhis podera guarir,
ca os nom vira viir;
15mais oíu-lhes el ganir
       as selas, por que guariu:
       polas selas que lh'oíu
       renger, por essas guariu.
  
E[les] forom-lhi meter
20ciada, polo prender;
mais oíu-lhis el renger
as selas, por que guariu:
       polas selas que lh'oíu
       renger, por essas guariu.


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Cancioneiros:

B 1345, V 952

Descrição:

Cantiga de Escárnio e maldizer

Refrão

Ora tenho guisado
de m'achar o zevrom:
nom and'encavalgado
nem trag'er selegom
5nem sela, mal pecado,
nem lh'oírei o som:
       ca já nom traj'a sela,
       de que riiu a bela,
       a sela canterlada,
10       que rengeu na ciada.
  
Val-mi Santa Maria,
pois a sela nom ouço,
a que renger soía
ao lançar do touço;
15matar-se-m'-ia um dia
ou ele ou Airas Louço:
       ca já nom traj'a sela,
       de que riiu a bela,
       a sela canterlada,
20       que rengeu na ciada.


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Cancioneiros:

B 1346, V 953

Descrição:

Cantiga de Escárnio e maldizer

Refrão

Sela aleivosa, em mao dia te vi;
por teu cantar já Rodrigo perdi;
riiu-s'el-rei e mia esposa de mi.
       Leixar-te quero, mia sela, por en;
5       e irei em osso e baratarei bem.
  
Sela aleivosa, polo teu cantar,
perdi Rodrig'e non'o poss'achar;
e por ende te quero [já] leixar.
       Leixar-te quero, mia sela, por en;
10       e irei em osso e baratarei bem.
  
Des oimais nom tragerei esteos
nem arções, se mi valha Deus,
e vencerei os enmiigos meus.
       Leixar-te quero, mia sela, por en;
15       e irei em osso e baratarei bem.


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Cancioneiros:

B 1347, V 954

Descrição:

Cantiga de Escárnio e maldizer

Refrão e Paralelística

Ao lançar do pau,
       ena sela,
deu do cuu mau
       e quebrou-lh'a sela,
5       ca 'ssi diss'a bela:
       - Rengeu-lh'a sela!
  
Ao lançar do touço,
       [ena sela],
deu do cu a bouço
10       e quebrou-lh'a sela,
       ca 'ssi diss'a bela:
       - Rengeu-lh'a sela!


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Cancioneiros:

B 1348, V 955

Descrição:

Cantiga de Escárnio e maldizer

Refrão

Airas Moniz, o zevrom,
leixad[e] o selegom
e tornad'ao albardar:
       andaredes i melhor
5       ca na sela rengedor;
       andaredes i mui bem
       e nom vos rengerá per rem.
  
Tolhede-lh'o peitoral,
apertade-lh'o atafal,
10e nom vos rengerá per rem:
       andaredes i melhor
       ca na sela rengedor;
       andaredes i mui bem
       e nom vos rengerá per rem.
  
15Podedes en bafordar
e o tavlado britar,
e nom vos rengerá per rem:
       andaredes i melhor
       ca na sela rengedor;
20       andaredes i mui bem
       e nom vos rengerá per rem.


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Cancioneiros:

B 1349, V 956

Descrição:

Cantiga de Escárnio e maldizer

Refrão

O infançom houv'atal
trégoa migo des Natal
que agora oiredes:
que lhi nom dissesse mal
5da sela nem do brial;
mais aquel dia, vedes,
       ante que foss'ũa légoa,
       comecei
       aqueste cantar da égoa,
10       que nom andou na trégoa;
       e por en lhi cantarei.
  
Nom neg'eu que trégoa di
ao brial, há sazom [i],
e aa rengelhosa;
15e de pram andarom i
as mangas do ascari,
mais nom a rabicosa.
       Ante que foss'ũa légoa,
       comecei
20       aqueste cantar da égoa,
       que nom andou na trégoa;
       e por en lhi cantarei.
  
Dei [i] eu ao infançom
e a seu brial [entom]
25trégoa, ca mi a pedia;
e ao outro zevrom,
a que reng'o selegom;
mais logo naquel dia,
       ante que foss'ũa légoa,
30       comecei
       aqueste cantar da égoa,
       que nom andou na trégoa;
       e por en lhi cantarei.
  
Ao infançom vilam,
35afamado come cam,
e a[a] canterlada
e ó seu brial d'Alvam
trégoa lhi dei eu, de pram;
e, pois lha houvi dada,
40       ante que foss'ũa légoa,
       comecei
       aqueste cantar da égoa,
       que nom andou na trégoa;
       e por en lhi cantarei.


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Cancioneiros:

B 1350, V 957

Descrição:

Cantiga de Escárnio e maldizer

Refrão

Rubrica:

Outrossi fez este cantar de mal dizer aposto a ũa dona que era mui meninha e mui fremosa e fogiu ao marido; e a el prazia-lhi.

Muito mi praz d'ũa rem
que fez Dona Marinha:
nom quer seu marido bem,
e soub'a pastorinha
5       fogir.
       Mal haja quem nom servir
       dona fremosa que fogir!
  
Ela fez end'o melhor,
a Deus seja gracido:
10molhercinha tam pastor
saber a seu marido
       fogir.
       Mal haja quem nom servir
       dona fremosa que fogir!
  
15[Vedes] qual é meu sabor:
haverem ambos guerra;
e bem toste mia senhor
verrá-s'a nossa terra
       guarir.
20       Mal haja quem nom servir
       dona fremosa que fogir!


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Cancioneiros:

B 1351, V 958

Descrição:

Cantiga de Escárnio e maldizer

Refrão

Rubrica:

Outrossi trobou a ũa dona, que nom havia prez de mui salva; e el disse que lhi dera de seus dinheiros por preit'atal que fezesse por el algũa cousa, e pero nom quis por el fazer nada; por en fez estes cantares de maldizer.

A dona fremosa do Soveral
há de mi dinheiros per preit'atal:
que veess'a mi, u nom houvess'al,
um dia talhado, a cas Dom Corral;
5e é perjurada,
ca nom fez en nada;
e baratou mal,
ca desta negada
será penhorada
10que dobr'o sinal.
  
Se m'ela crever, cuido-m'eu, dar-lh'-ei
o melhor conselho que hoj'eu sei:
dê-mi meu haver e gracir-lho-ei;
[e] se mi o nom der, penhorá-la-ei:
15ca mi o tem forçado,
do corp'alongado,
nom lho sofrerei;
mais, polo meu grado,
dar-mi-á bem dobrad'o
20sinal que lh'eu dei.


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Cancioneiros:

B 1352, V 959/60

Descrição:

Cantiga de Escárnio e maldizer

Mestria

A dona de Bagüin
que mora no Soveral,
dez e seis soldos há de mi;
e dei-l[h]os eu per preit'atal:
5que mi os ar desse,
ond'al nom fezesse,
senom [que] veesse
falar mig'em cas Dom Corral.
  
Sabem em Morraz'e Salnês
10meu preit'e seu; e nom lhis pês
que há de mim, mais há d'um mês,
um sold'e dous e dez e três;
[e] demais dizia
que [ao] tercer dia
15[mi os ar daria]
em cas Dom Corral, o burguês.


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Cancioneiros:

B 1353, V 961

Descrição:

Cantiga de Escárnio e maldizer

Refrão

Rubrica:

Esta cantiga fez como respondeu um escudeiro que nom era bem fidalgo e queria seer cavaleiro; e el non'o tinha por dereito e diss'assi.

- Escudeiro, pois armas queredes,
dized'ora com quem comedes.
       - Dom Fernando, comer-mi-ei sol,
       ca assi fez sempre meu avol.
  
5- Pois armas tanto desejades,
buscad'ante com quem comiades.
       - Dom Fernando, comer-mi-ei sol,
       ca assi fez sempre meu avol.


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Cancioneiros:

B 1354, V 962

Descrição:

Cantiga de Escárnio e maldizer

Mestria

Rubrica:

Esta cantiga fez a ũa dona fremosa, que a casarom seus parentes mal, por dinheiros

Se m'el-rei dess'algo, já m'iria
pera mia terra de [mui] bom grado;
e se [i] chegasse, compraria
dona fremosa de gram mercado;
5ca já [as] vendem, a Deus louvado,
como venderom Dona Luzia
em Orzelhom ora noutro dia!
  
E u, cuitado, nom chegaria
por comprar corpo tam bem talhado?
10E [o] astroso que a vendia,
porque mi nom enviou mandado,
fora de cachas en carregado:
eu que comprara Dona Luzia
em Orzelhom do que a vendia!


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Cancioneiros:

B 1355, V 963

Descrição:

Cantiga de Escárnio e maldizer

Descordo

Rubrica:

Este cantar fez em som d'um descor, e feze-o a um infançom de Castela que tragia leito dourado, e era mui rico e guisava-se mal e era muit'escasso

Quem hoj'houvesse
guisad'e podess', e
[quisesse],
um cantar fezesse
5a quem mi ora eu sei!
E lhi dissesse
(pois pouco valvess'e
nom desse
rem) que nom trouxesse
10 leit'em cas d'el-rei!
  
Ca, pois honrado
nom é, nem graado,
doado
faz leito dourado
15depós si trager;
e tem poupado
quant'há e negado;
pecado
o trag'enganado,
20 que lho faz fazer.
  
Ca nunca el de seu
haver deu rem,
- esto sei eu -
que lh'estevesse bem;
25Demo lho deu,
pois que lhi prol nom tem;
muito lh'é greu,
quando lho ped'alguém;
  
E mantenente
30perd'o contenente
verdadeiramente
e vai-s'asconder;
e faz-se doente
e nosso mal nom sente
35e fug'ant'a gente,
pola nom veer.


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Cancioneiros:

B 1356, V 964

Descrição:

Cantiga de Escárnio e maldizer

Fragmento

Rubrica:

Estoutro cantar fez a ũa dona casada que havia preço com um seu homem, que havia nome Franco.

A Dona Maria [há] soidade...
a Dona Maria [há] soidade...
ca perdeu aquel jograr [...]
dizendo del bem; e el nom achou
5que nẽum preito del fosse mover,
nem bem nem mal, e triste se tornou.