Afonso Lopes de Baião - Todas as cantigas

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Cancioneiros:

A 224, B 395, V 5

Descrição:

Cantiga de Amor

Refrão

Senhor, que grav'hoj'a mi é
de m'haver de vós a partir!
Ca sei, de pram, pois m'eu partir,
que mi averrá, per bõa fé:
5       haverei, se Deus me perdom!,
       gram coita no meu coraçom.
  
E pois partir os olhos meus
de vós, que eu quero gram bem,
e vos nom virem, sei eu bem
10que mi averrá, senhor, par Deus:
       haverei, se Deus me perdom!,
       gram coita no meu coraçom.
  
E se Deus algum bem nom der
de vós, que eu por meu mal vi
15(tam grave dia vos eu vi!),
se de vós grado nom houver,
       haverei, se Deus me perdom!,
       gram coita no meu coraçom.


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Cancioneiros:

A 225, B 396, V 6

Descrição:

Cantiga de Amor

Refrão

O meu Senhor [Deus] me guisou
de sempr'eu já coita sofrer,
enquanto no mundo viver,
u m'El atal dona mostrou
5       que me fez filhar por senhor,
       e nom lh'ouso dizer "senhor".
  
E se Deus houve gram prazer
de me fazer coita levar,
que bem s'end'El soube guisar
10u m'El fez tal dona veer,
       que me fez filhar por senhor,
       e nom lh'ouso dizer "senhor".
  
Se m'eu a Deus mal mereci,
nom vos quis El muito tardar
15que se nom quisesse vingar
de mi, u eu tal dona vi
       que me fez filhar por senhor,
       e nom lh'ouso dizer "senhor".


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Cancioneiros:

B 738, V 339
(C 738)

Descrição:

Cantiga de Amigo

Refrão

Fui eu, fremosa, fazer oraçom,
nom por mia alma, mais que viss'eu i
o meu amigo, e, poilo nom vi,
vedes, amigas, se Deus mi perdom,
5       gram dereit'é de lazerar por en,
       pois el nom vẽo, nem haver meu bem.
  
Ca fui eu [i] chorar dos olhos meus,
mias amigas, e candeas queimar,
nom por mia alma, mais polo achar,
10e, pois nom vẽo nen'o 'dusse Deus,
       gram dereit'é de lazerar por en,
       pois el nom vẽo, nem haver meu bem.
  
Fui eu rogar muit'a Nostro Senhor,
nom por mia alma, e candeas queimei,
15mais por veer o que eu muit'amei
sempr', e nom vẽo, o meu traedor:
       gram dereit'é de lazerar por en,
       pois el nom vẽo, nem haver meu bem.


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Cancioneiros:

B 738bis, V 340

Descrição:

Cantiga de Amigo

Refrão

Madre, des que se foi daqui
meu amigo, nom vi prazer,
nem mi o queredes [vós] creer,
e moir'e, se nom é assi,
5       nom vejades de mi prazer
       que desejades a veer.
  
Des que s'el foi, per bõa fé,
chorei, madre, dos olhos meus
com gram coita, sab'hoje Deus,
10e moir'e, se assi nom é,
       nom vejades de mi prazer
       que desejades a veer.
  
De mia mort'hei mui gram pavor,
mia madre, se cedo nom vem,
15e al nom duvidedes en,
ca, se assi nom é, senhor,
       nom vejades de mi prazer
       que desejades a veer.


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Cancioneiros:

B 739, V 341

Descrição:

Cantiga de Amigo

Refrão

Ir quer'hoj'eu, fremosa, de coraçom,
por fazer romaria e oraçom
       a Santa Maria das Leiras,
       pois [o] meu amigo i vem.
  
5Des que s[e ele] foi, nunca vi prazer,
e quer'hoj'ir, fremosa, polo veer,
       a Santa Maria das Leiras,
       pois [o] meu amigo i vem.
  
Nunca serei [eu] leda, se o nom vir,
10e por esto, fremosa, quer'ora ir
       a Santa Maria das Leiras,
       pois [o] meu amigo i vem.


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Cancioneiros:

B 740, V 342

Descrição:

Cantiga de Amigo

Refrão

Disserom-mi ũas novas de que m'é mui gram bem:
ca chegou meu amigo, e, se el ali vem,
       a Santa Maria das Leiras irei, velida,
       se i vem meu amigo.
  
5Disserom-m'ũas novas de que hei gram sabor:
ca chegou meu amigo, e, se el ali for,
       a Santa Maria das Leiras irei, velida,
       se i vem meu amigo.
  
Disserom-m'ũas novas de que hei gram prazer:
10ca chegou meu amigo, mais eu, polo veer,
       a Santa Maria das Leiras irei velida,
       se i vem meu amigo.
  
Nunca com taes novas tam leda foi molher
com'eu sõo com estas, e, se [el] i veer,
15       a Santa Maria das Leiras irei, velida,
       se i vem meu amigo.


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Cancioneiros:

B 1469, V 1079
(C 1469)

Descrição:

Cantiga de Escárnio e maldizer

Mestria

Rubrica:

Cantigas que fez Dom Afonso López de Baiam d'escarnh'e de maldizer.

Oí d'Alvelo que era casado
mais nõn'o creo, se Deus mi perdom;
e quero-vos logo mostrar razom,
que entendades que digo recado:
5ca lh'oí eu muitas vezes jurar
que tam pastor nom podia casar;
e por en creo que nom é casado.
  
Sabia-m'eu ca x'era esposado
mais há d'um ano, nom dig'eu de nom,
10ca mi mostrou el bem seu coraçom,
per quanto el a mi havia jurado:
que, mentr'atam pastor fosse com'é,
que nom casaria, per boa fé;
mais esposou-s'e anda esposado.
  
15E seus parentes têm por guisado
que se casass'há i gram sazom;
os que lho dizem diz-lhis el entom:
- Do que dizedes nom sõo pagado,
ca me nom podedes tanto coitar
20que eu tam pastor quisesse casar;
mais casarei quand'[o] houver guisado.
  
De me coitardes fazedes mal sem,
ca nom podedes já, per nulha rem,
que per mi seja o preito juntado.


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Cancioneiros:

B 1470, V 1080
(C 1470)

Descrição:

Cantiga de Gesta de maldizer

Rubrica:

Aqui se começa a gesta que fez Dom Afonso López a Dom Meendo e a seus vassalos, de maldizer.

Sedia-xi Dom Belpelho em ũa sa maison
que chamam Longos, [d]ond'eles todos som.
Per porta lh'entra Martim de Farazom,
escud'a colo em que sev'um capom,
5que foi já poleir'em outra sazom,
caval'agudo, que semelha forom;
em cima del um velho selegom,
sem estrebeiras e com roto bardom;
nem porta loriga nem porta lorigom,
10nem geolheiras, quaes de ferro som,
mais trax perponto roto sem algodom
e coberturas d'um velho zarelhom;
lança de pinh'e de bragal o pendom,
chapel de ferro, que xi lhi mui mal pom,
15e sobarcad'um velh'espadarrom,
cuitel cacha[d]o, cinta sem farcilhom,
duas esporas destras, ca seestras nom som,
maça de fuste, que lhi pende do arçom.
A Dom Belpelho moveu esta razom:
20- Ai, meu senhor, assi Deus vos perdom,
u é Joam Aranha, o vosso companhom
e voss'alférez, que vos tem o pendom?
Se é aqui, saia desta maison,
ca já outros todos em Basto som.
25       Eoi!
  
Estas horas chega Joam de Froiam,
cavalo velho, caçurr'e alaxam,
sinaes porta eno arçom d'avam:
campo verde, u inqueire o cam,
30e no escudo ataes lh'acharám;
ceram'e cint'e calças de Roam,
sa catadura semelh'a d'um jaiam.
Ante Dom Belpelho se vai aparelhan
e diz: - Senhor, nom valredes um pam
35se os que som em Basto se xi vos assi vam;
mais id'a eles, ca xe vos nom iram:
achá-los-edes [e] escarmentarám.
Vingad'a casa em que vos mejad'ham,
que digam todos quantos pós vós verram
40que tal conselho deu Joam de Froiam.
       Eoi!
  
Esto per dito chegou Pero Ferreira,
cavalo branco, vermelho na peteira,
escud'a colo, que foi d'ũa masseira,
45sa lança torta d'um ramo de cerdeira,
capelo de ferro, o anasal na trincheira
e furad[o] em cima da moleira;
traj'ũa osa e ũa geolheira,
estrebeirando vai de mui gram maneira;
50e achou Belpelho estando em ũa eira
e diz: - Aqui estades, ai, velho de matreira!
Venha Pachacho e Dom Roi Cabreira
pera dar[em] a mim a deanteira,
ca já vos tarda essa gente da Beira,
55o moordom'e o sobrinho de Cheira,
e Meem Sapo e Dom Martim de Meira
e Lopo Gato, esse filho da freira,
que nom há antre nós melhor lança peideira.
       Eoi!


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Cancioneiros:

B 1471, V 1081

Descrição:

Cantiga de Escárnio e maldizer

Mestria

Em Arouca ũa casa faria;
atant'hei gram sabor de a fazer
que já mais custa nom recearia
nem ar daria rem por meu haver,
5ca hei pedreiros e pedra e cal;
e desta casa nom mi míngua al
senom madeira nova, que queria.
  
E quem mi a desse, sempr'o serviria,
ca mi faria i mui gram prazer,
10de mi fazer madeira nova haver,
em que lavrass'ũa peça do dia,
e pois ir logo a casa madeirar
e telhá-la; e pois que a telhar,
dormir en'ela de noit'e de dia.
  
15E, meus amigos, par Santa Maria,
se madeira nova podess'haver,
log'esta casa iria fazer
e cobri-la e descobri-la ia,
e revolvê-la, se fosse mester;
20e se mi a mi a abadessa der
madeira nova, esto lhi faria.


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Cancioneiros:

B 1471bis, V 1082

Descrição:

Cantiga de Escárnio e maldizer

Fragmento

Deu ora el-rei seus dinheiros
a Belpelho, que mostrasse
em alardo cavaleiros
e por ric'homem ficasse;
5e pareceo o Sarilho
com sa sela de badana:
qual ric'homem, tal vassalo,
qual concelho, tal campana!