Paio Soares de Taveirós - Todas as cantigas

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Cancioneiros:

B 142
(C 140)

Descrição:

Tenção

Mestria

Rubrica:

Esta cantiga fez Pero Velho de Taveiroos e Paai Soarez, seu irmão, a duas donzelas mui fremosas e filhas d'algo assaz, que andavam em cas Dona Maior, molher de Dom Rodrigo Gomes de Trastamar. E diz que se semelhava[m] ũa a outra tanto que adur poderia homem estremar ũa da outra; e seendo ambas um dia folgando per ũa sesta em um pomar, entrou Pero Velho de sospeita [e], falando com elas, chegou o porteiro e levantou-o end'a grandes empuxadas, e trouve-o mui mal.

- Vi eu donas em celado
que já sempre servirei
por que ando namorado;
pero nom vo-las direi
5com pavor que delas hei,
assi mi ham lá castigado!
  
- Des que essas donas vistes,
falarom-vos rem d'amor?
Dizede, se as cousistes,
10qual delas é [a] melhor?
Nom fostes conhecedor
quando as nom departistes.
  
- Ambas eran'as melhores
que homem pode cousir:
15brancas eram come flores;
mais, por vos eu nom mentir,
nõn'as pudi departir,
tanto sam bõas senhores.
  
- Ali perdeste-l'o siso
20quando as fostes veer,
ca no falar e no riso
podérades conhocer
qual há melhor parecer;
mais fali[u]-vos i o viso.


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Cancioneiros:

B 144

Descrição:

Tenção

Mestria

Rubrica:

Esta cantiga fez Martim Soares como em maneira de tençom com Paai Soares, e é d'escarnho. Este Martim Soares foi de Riba de Límia, em Portugal, e trobou melhor ca tôdolos que trobarom, e ali foi julgado antr'os outros trobadores

- Ai, Pai Soárez, venho-vos rogar
por um meu homem que nom quer servir,
que o façamos, mi e vós, jograr,
em guisa que possa per i guarir;
5pero será-nos grave de fazer,
ca el nom sabe cantar nem dizer
rem, per que se pague del quen'o vir.
  
- Martim Soárez, nom poss'eu osmar
que no-l'as gentes queiram consentir
10de nós tal homem fazermos poiar
em jograria; ca, u for pedir,
algu[é]m ve[e]rá o vilam se[e]r,
trist'e [no]joso e torp'e sem saber,
e haver-s'-á de nós e del riir.
  
15- Paai Soárez, o hom'é de seu
trist'e nojoso e torp'e sem mester;
pero faremos nós de[l], cuido-m'eu,
jograr, se ende voss'ajuda houver;
ca lhe daredes vós esse saiom,
20e porrei-lh'eu nome jograr "Sisom";
e com tal nome gualrá per u quer.
  
- Martim Soárez, a mi [nom m']é greu
de lh'o saiom dar; e, pois que lho der,
nom diga el que lho nulh'homem deu;
25e, se o el per ventura disser,
mui bem sei eu que lhe dirám entom:
"Confunda Deus quem te deu esse dom,
nem quem te fezo jograr nem segrer!"
  
- Paai Soárez, tenho por razom
30de poiar já o vilaão grodom
[e] des i, posface del quem quiser.
  
[- Martim Soárez, ......................
..............................................
..............................................]


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Cancioneiros:

B 145
(C 145)

Descrição:

Cantiga de Amor

Mestria

Cuidava-m'eu, quando nom entendia
que mal sem era de vos bem querer,
senhor fremosa, que m'en partiria
atanto que o podess'entender;
5mais entend'ora que faç'i mal sem
de vos amar, pero nom me part'en,
ante vos quero melhor todavia.
  
Eu mi cuidava que nom poderia
de vós viir, mia senhor, senom bem
10- ca nom cuidei que me de vós verria
tam muito mal como m'agora vem;
e fazia dereito, ca nom al,
e[m] nom cuidar que me veesse mal,
senhor fremosa, d'u non'[o] havia.
  
15E por mui gram maravilha terria,
senhor, quem ora soubesse de qual
guisa mi vem – e dereito faria,
ca nunca vistes maravilha tal:
ca me vem mal d'u o Deus nom quis dar,
20senhor, e coita mui grand'e pesar
de vós, de que mi v[i]ir nom devia.
  
Por en, senhor, cousimento seria
e mesura grand', assi Deus m'ampar!,
de mi fazerdes vós bem algum dia,
25pois tanto mal me fazedes levar;
e se mi bem fezéssedes, senhor,
sabed', a vós x'estaria melhor;
e demais Deus vo-lo gradeceria.


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Cancioneiros:

A 31, B 146

Descrição:

Cantiga de Amor

Mestria

Entend'eu bem, senhor, que faz mal sem
quem vai gram bem querer quem lho nom quer,
e quem deseja muit'ata[l] molher
de que nom cuida jamais haver bem;
5e mia senhor, tod'est'a mi avém
de vós, e nom entend[o] a folia
que faç'i grand', [e] entendê-la-ia
se a fezess'outre; e nom hei ventura
de saber-me guardar de gram loucura.
  
10E, mia senhor, sei eu guardar outr'en,
e a mim, que mi havia mais mester,
nom sei guardar; e se me nom valver
escontra vós, mia senhor, outra rem,
nom mi há mim prol, quando me prol nom tem
15cousimento, que me valer devia;
e mia senhor, vel por Santa Maria!,
pois Deus nom quer que eu faça cordura,
fazed'i vós cousiment'e mesura!
  
E, de pram, segundo meu conhoscer,
20em vos querer mui gram bem, mia senhor,
eu que nom cuido, mentre vivo for,
senhor fremosa, de vós bem haver,
mais mi o devíades vós gradecer
ca se vos eu, mia senhor, [mais] amasse
25por algum bem que eu de vós cuidasse
haver; mais Deus nom me dê de vós grado,
se eu, senhor, hei rem deste cuidado.


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Cancioneiros:

A 32, B 147

Descrição:

Cantiga de Amor

Refrão

A rem do mundo que melhor queria,
nunca m'en bem quis dar Santa Maria;
mais, quant'end'eu no coraçom temia
       hei! hei! hei!
5       Senhor, senhor, agora vi
       de vós quant'eu sempre temi!
  
A rem do mundo que eu mais amava
e mais servia, nem mais desejava,
Nostro Senhor, quant'end'eu receava
10       hei! hei!hei!
       Senhor, senhor, agora vi
       de vós quant'eu sempre temi!
  
E que farei eu, cativ'e coitado?
Que eu assi fiquei, desamparado
15de vós, por que coita grand'e cuidado
       hei! hei! hei!
       Senhor, senhor, agora vi
       de vós quant'eu sempre temi!


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Cancioneiros:

A 33, B 148

Descrição:

Cantiga de Amor

Mestria

Quantos aqui d'Espanha som,
todos perderom o dormir
com gram sabor que ham de s'ir;
mais eu nunca sono perdi,
5des quando d'Espanha saí,
ca mi o perdera já entom.
  
E eles, si Deus me perdom,
desejam sas terras assi
que nom dormirom muit'há i;
10mais, pois i forem, dormirám,
ca nom desejam al, nem ham
outra coita, se esta nom.
  
E estou end'eu mui peor,
que cuid'i a perder o sem,
15desejando sempr'aquel bem
do mundo mais grave d'haver,
como desejar bem fazer
da mui fremosa mia senhor.
  
E, de pram, est est'o maior
20bem que hoj'eu posso saber;
e Deus, que mi a fez bem querer,
se m'este bem quisesse dar,
nom me cuidaria cambiar
por rei nem por emperador.


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Cancioneiros:

A 34, B 149

Descrição:

Cantiga de Amor

Refrão

Meus olhos, quer-vos Deus fazer
ora veer tam gram pesar,
onde me nom poss'eu quitar
sem mort'! E nom poss'eu saber
5       porque vos faz agora Deus
       tam muito mal, ai olhos meus!
  
Ca vos farám cedo veer
a por que eu moiro casar;
e nunca me dela quis dar
10bem; e nom poss'or'entender
       porque vos faz agora Deus
       tam muito mal, ai olhos meus!
  
E de quem vos esto mostrar,
nunca vos mostrará prazer,
15ca log'eu i cuid'a morrer,
olhos; e nom poss'eu osmar
       porque vos faz agora Deus
       tam muito mal, ai olhos meus!


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Cancioneiros:

A 35, B 150

Descrição:

Cantiga de Amor

Refrão

Como morreu quem nunca bem
houve da rem que mais amou,
e que[m] viu quanto receou
dela, e foi morto por en:
5       ai, mia senhor, assi moir'eu!
  
Como morreu quem foi amar
quem lhe nunca quis bem fazer,
e de que lhe fez Deus veer
de que foi morto com pesar:
10       ai, mia senhor, assi moir'eu!
  
Com'home que ensandeceu,
senhor, com gram pesar que viu
e nom foi ledo nem dormiu
depois, mia senhor, e morreu:
15       ai, mia senhor, assi moir'eu!
  
Como morreu quem amou tal
dona que lhe nunca fez bem,
e quen'a viu levar a quem
a nom valia, nen'a val:
20       ai, mia senhor, assi moir'eu!


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Cancioneiros:

A 36

Descrição:

Cantiga de Amor

Mestria

Senhor, os que me querem mal
sei eu bem que vos vam dizer
todos, senhor, por me fazer perder
convosco e nom por al:
5dizem-vos ca vos quero bem,
senhor – e nom devo por en
eu escontra vós a perder.
  
E já desta mescra [a]tal
de me guardar nom hei poder,
10ca vos sei mui gram bem querer,
pero me contra vós nom val;
e vós, por tolherdes-mi o sem,
nunca lhes queredes per rem
esta mescra de mim creer.
  
15E, mia senhor, quer'eu punhar
se me posso salvar, se nom;
e dire[i]-lhes, a quantos som,
que mi o nom poderám provar;
mais eles sei eu que farám:
20log'ante vós mi afrontarám
que vos amo de coraçom.


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Cancioneiros:

A 37

Descrição:

Cantiga de Género incerto

Mestria

Eu sõo tam muit'amador
do meu linhagem, que nom sei
al no mundo querer melhor
d'ũa mia parenta que hei;
5e quem a sa linhagem quer bem,
tenh'eu que faz dereit'e sem;
e eu sempr'o meu amarei.
  
E sempre serviç'e amor
eu a meu linhagem farei:
10entanto com'eu vivo for,
esta parenta servirei,
que quero melhor doutra rem;
e muito serviç'em mi tem,
se eu poder - e poderei.
  
15Pero nunca vistes molher
nunca chus pouc'algo fazer
a seu linhagem, ca nom quer
em meu preito mentes meter;
e poderia-me prestar,
20par Deus, muit', e nom lhe custar
a ela rem de seu haver.
  
E veede se mi há mester
d'atal parenta bem querer:
que m'hei a queixar, se quiser
25lhe pedir alg', ou a veer;
pero se mi quisesse dar
algo, faria-me preçar
atal parenta e valer.


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Cancioneiros:

A 38

Descrição:

Cantiga de Género incerto

Mestria

No mundo nom me sei parelh'
mentre me for como me vai,
ca já moiro por vós e ai,
mia senhor branc'e vermelha!
5queredes que vos retraia
quando vos eu vi em saia?
Mao dia me levantei
que vos entom nom vi fea!
  
E [ai!], mia senhor, des aquelh'
10dia, me foi a mi mui lai.
E vós, filha de dom Paai
Moniz, e bem vos semelha
d'haver eu por vós garvaia?
Pois eu, mia senhor, d'alfaia
15nunca de vós houve nem hei
valia d'ũa correa.


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Cancioneiros:

A 39

Descrição:

Cantiga de Amor

Fragmento

Meus olhos, gram coita d'amor
me dades vós, que sempr'assi
chorades; mais já des aqui,
meus olhos, por Nostro Senhor,
5nom choredes, que vejades
a dona por que chorades.
  
[...]


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Cancioneiros:

B 638, V 239
(C 638)

Descrição:

Cantiga de Amigo

Refrão

O meu amigo, que mi dizia
que nunca mais migo viveria,
       par Deus, donas, aqui é já.
  
Que muito m'el havia jurado
5que me nom visse, mais, a Deus grado,
       par Deus, donas, aqui é já.
  
O que jurava que me nom visse,
por nom seer todo quant'el disse,
       par Deus, donas, aqui é já.
  
10Melhor o fezo ca o nom disse:
       par Deus, donas, aqui é já.


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Cancioneiros:

B 639, V 240

Descrição:

Cantiga de Amigo

Refrão, refrão inicial

Donas, veeredes a prol que lhi tem
       de lhi saberem ca mi quer gram bem!
  
Par Deus, donas, bem podedes jurar
do meu amigo, que mi fez pesar;
5mais Deus! E que cuida mi a gãar
       de lhi saberem que mi quer gram bem?
  
Sofrer-lh'-ei eu de me chamar senhor
nos cantares que fazia d'amor;
mais enmentou-me todo com sabor
10       de lhi saberem que mi quer gram bem.
  
Foi-m'el em seus cantares enmentar;
vedes ora se me dev'a queixar!
Ca se nom quis meu amigo guardar
       de lhi saberem que mi quer gram bem.


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Cancioneiros:

B 640, B 827, V 241, V 413

Descrição:

Cantiga de Amigo

Refrão

Quando se foi meu amigo,
jurou que cedo verria,
mais, pois nom vem falar migo,
por en, por Santa Maria,
5       nunca mi por el roguedes,
       ai donas, fé que devedes.
  
Quando se foi, fez-mi preito
que se verria mui cedo,
e mentiu-mi, tort'há feito,
10e pois de mi nom há medo,
       nunca mi por el roguedes,
       ai donas, fé que devedes.
  
O que vistes que dizia
que andava namorado,
15pois que nom veo o dia
que lh'eu havia mandado,
       nunca mi por el roguedes,
       ai donas, fé que devedes.