Paio Soares de Taveirós


Entend'eu bem, senhor, que faz mal sem
quem vai gram bem querer quem lho nom quer,
e quem deseja muit'ata[l] molher
de que nom cuida jamais haver bem;
 5e mia senhor, tod'est'a mi avém
 de vós, e nom entend[o] a folia
que faç'i grand', [e] entendê-la-ia
se a fezess'outre; e nom hei ventura
de saber-me guardar de gram loucura.
  
10E, mia senhor, sei eu guardar outr'en,
e a mim, que mi havia mais mester,
nom sei guardar; e se me nom valver
 escontra vós, mia senhor, outra rem,
nom mi há mim prol, quando me prol nom tem
15cousimento, que me valer devia;
e mia senhor, vel por Santa Maria!,
pois Deus nom quer que eu faça cordura,
fazed'i vós cousiment'e mesura!
  
 E, de pram, segundo meu conhoscer,
20em vos querer mui gram bem, mia senhor,
eu que nom cuido, mentre vivo for,
senhor fremosa, de vós bem haver,
mais mi o devíades vós gradecer
ca se vos eu, mia senhor, [mais] amasse
25por algum bem que eu de vós cuidasse
haver; mais Deus nom me dê de vós grado,
se eu, senhor, hei rem deste cuidado.



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Nota geral:

Apesar de entender que é insensato alguém amar uma pessoa quando esse amor não é correspondido e quando não se tem qualquer esperança de obter os seus favores, o trovador diz à sua senhora que é isso mesmo que lhe acontece. Capaz de entender a loucura de qualquer outro, não entende a sua, e é incapaz de a evitar. Por isso, alguma coisa lhe terá de valer, já que a ponderação e a cortesia da sua senhora não lhe valem, como deveriam. Apelando mais uma vez à sua generosidade, termina dizendo que ela deveria pelo menos agradecer-lhe um amor que, garante, nada pede em troca.



Nota geral


Descrição

Cantiga de Amor
Mestria
Cobras doblas
(Saber mais)


Fontes manuscritas

A 31, B 146

Cancioneiro da Ajuda - A 31

Cancioneiro da Biblioteca Nacional - B 146


Versões musicais

Originais

Desconhecidas

Contrafactum

Desconhecidas

Composição/Recriação moderna

Desconhecidas