Nota geral: Como acontece com várias composições que os cancioneiros nos transmitiram, o género desta cantiga não é muito claro. Não sendo exatamente uma cantiga de escárnio, é preciso, no entanto, chegar à sua terceira estrofe para podermos entrar no ambiente de uma cantiga de amor. Na verdade, as duas primeiras estrofes, cuja ligação com a terceira é, aliás, algo fluida, aludem apenas, e muito realisticamente, à entrada de duas donzelas, bem identificadas, para um convento. Quanto à bõa dona cantada na terceira estrofe, a sua relação com as anteriores não fácil de entender. As donzelas em causa, cujos nomes podemos completar - trata-se de Dórdia Gil de Soverosa e de Guiomar Gil de Riba de Vizela - professaram no mosteiro de Arouca por volta de 1250. A ser assim, não é impossível que a cantiga se insira ainda, subtilmente, na turbulência nobiliárquica ocasionada pela deposição de Sancho II e a subida ao trono do seu irmão, Afonso III (1248). Na verdade, pertencendo as donzelas a famílias que se mantiveram fiéis a D. Sancho, e tudo indicando que a trajetória de Guilhade se processou na proximidade dos Sousa, partidários do novo rei, a sua cantiga poderá ser, na verdade, um irónico remoque às linhagens derrotadas (dando a entender que a entrada das donzelas na vida religiosa teria sido mais forçada por conveniências familiares do que por uma efetiva vocação?)
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