Rodrigo Anes de Vasconcelos


Aquestas coitas que de sofrer hei,
meu amigo, muitas e graves som;
e vós mui graves, há i gram sazom,
coitas sofredes; e por en nom sei
5       d'eu por vassalo e vós por senhor,
       de nós qual sofre mais coita d'amor!
  
Coitas sofremos, e assi nos avém:
eu por vós, amig[o], e vós por mi!
E sabe Deus de nós que est assi;
10e destas coitas nom sei eu muit'en,
       d'eu por vassalo e vós por senhor,
       de nós qual sofre mais coita d'amor!
  
Guisado têm de nunca perder
coita meus olhos e meu coraçom;
15e estas coitas, senhor, minhas som;
e deste feito nom poss'entender,
       d'eu por vassalo e vós por senhor,
       de nós qual sofre mais coita d'amor!



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Nota geral:

Cantiga que, pelas suas caraterísticas inusitadas e pelos elementos aparentemente contraditórios que nos transmite, levanta alguns problemas de interpretação que não são fáceis de resolver. Determinar se a voz que canta é feminina ou masculina é, desde logo, o seu problema maior. De facto, pelo tema, dir-se-ia estarmos perante uma cantiga de amor. No entanto, a voz que se ouve, dirigindo-se predominantemente a um amigo, parece ser, na verdade, uma voz feminina. Mas uma voz que sofre por um vassalo, como explicita o refrão da cantiga (explicitação igualmente inusitada no universo da cantiga de amigo). A juntar a esta estranheza, temos ainda o vocativo senhor (uniforme, à época, relembre-se), usado na terceira estrofe, termo mais próprio de uma cantiga de amor do que de amigo.
As interpretações que têm sido avançadas para este complicado puzzle são variadas, desde a de poder ser esta uma cantiga dialogada, até à de poderem estar em causa amores homossexuais. Seja como for, e partindo do princípio de que a voz que canta é feminina, como parece mais provável, duas hipóteses são possíveis: 1) ser esta uma cantiga de amigo que usa o registo cortês da cantiga de amor (sendo este vassalo o amigo que sofre tanto por ela, a sua senhora, como ela por ele); 2) estarmos perante uma cantiga satírica, na forma de uma falsa cantiga de amigo, eventualmente aludindo aos amores de uma dama de alta linhagem com um seu vassalo. A ausência de qualquer rubrica explicativa não nos permite, no entanto, quaisquer certezas.



Nota geral


Descrição

Género incerto
Refrão
Cobras singulares
(Saber mais)


Fontes manuscritas

B 368

Cancioneiro da Biblioteca Nacional - B 368


Versões musicais

Originais

Desconhecidas

Contrafactum

Desconhecidas

Composição/Recriação moderna

Desconhecidas