João Lobeira


Nom pode Deus, pero pod'em poder,
poder El tanto, pero poder há:
já [d']ũa dona nom me tolherá
bem, pero pode quanto quer poder;
5[e] sei eu d'El ũa rem, a la fé:
que, pero El pod’, enquanto Deus é,
seu bem que perça nom pod'El poder.
  
E pero é sobre todos maior
senhor em poder de quantos eu sei,
10nom pod'El poder, segund'apres'hei,
pero é Deus sobre todos maior,
que me faça perder prol nem gram bem
daquesta dona, que m'em poder tem,
pero pod'El em poder mui maior.
  
15E pero Deus é o que pod'e val,
e pode sempre nas cousa[s] que som,
e pode poder em tod'a sazom,
nom pod'El tanto, pero pod'e val,
que me faça perder, esto sei eu,
20da mia senhor bem, pois me nunca deu
poder em tanto, pero tanto val.



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Nota geral:

Este brinquedo linguístico faz parte daquele pequeno grupo de cantigas que os trovadores dirigem contra Deus e que constituem, em maior ou menos grau, um jogo com a lógica escolástica, sondando os seus limites. É o que faz João Lobeira nesta cantiga, ao negar que Deus, com todo o Seu poder, possa algum dia retirar-lhe o bem da sua senhor, que ele nunca teve. É, pois, uma jocosa relação entre infinitos o que se estabelece aqui. Não deixando de ser um elogio da dona, a cantiga não é, pois, exatamente uma cantiga de amor. Note-se o dobre nos primeiro e sétimo versos de cada estrofe.



Nota geral


Descrição

Género incerto
Mestria
Cobras singulares
Dobre: (vv. 1, 4, 7 de cada estrofe)
poder (I), maior (II), val (III)
(Saber mais)


Fontes manuscritas

B 245

Cancioneiro da Biblioteca Nacional - B 245


Versões musicais

Originais

Desconhecidas

Contrafactum

Desconhecidas

Composição/Recriação moderna

Desconhecidas