João Garcia de Guilhade


Elvira López, aqui noutro dia,
se Deus mi valha, prendeu um cajom:
 deitou na casa sigo um peom,
e sa maeta e quanto tragia
5pôs cabo de si e adormeceu;
e o peom levantou-s'e fodeu,
e nunca ar soube contra u s'i ia.
  
Ante lh'eu dixi que mal sem faria
que se nom queria del a guardar
10[e] sigo na casa o ia jeitar;
e dixi-lh'eu quanto lh'end'averria;
ca vos direi do peom como fez:
abriu a porta e fodeu ũa vez,
[e] nunca soube del sabedoria.
  
15Mal se guardou e perdeu quant'havia,
ca se nom soub'a cativa guardar:
leixou-o sigo na casa albergar,
e o peom [logo] fez que dormia;
e levantou-s'o peom traedor
20e, como x'era de mal sabedor,
 fodeu-a tost'e foi logo sa via.
  
E o peom virom em Santarém;
e nom se avanta nem dá por en rem,
mais lev'o Demo quant[o] en tragia!



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Nota geral:

Esta cantiga vem na sequência da que a precede nos manuscritos: de facto, Elvira Lopes não deu ouvidos aos bons conselhos de João Garcia de Guilhade e acabou mesmo por ser "assaltada" pelo peão. De resto, a alusão final a Santarém, cidade que foi um dos palcos da guerra civil portuguesa de 1245-1248, poderá ser mais do que um simples detalhe geográfico. De qualquer forma, sendo praticamente impossível datar a cantiga, esse eventual sentido político da alusão é difícil de comprovar.
A cantiga tem exatamente a mesma medida (estrófica, métrica e rítmica) da anterior, pelo que decerto ambas seriam executadas com a mesma melodia.



Nota geral


Descrição

Cantiga de Escárnio e maldizer
Mestria
Cobras cobras uníssonas (rimas b I e c singulares)
Finda
(Saber mais)


Fontes manuscritas

B 1488, V 1100

Cancioneiro da Biblioteca Nacional - B 1488

Cancioneiro da Vaticana - V 1100


Versões musicais

Originais

Desconhecidas

Contrafactum

Desconhecidas

Composição/Recriação moderna

Desconhecidas