| | | Fernão Rodrigues de Calheiros |
| | | Rubrica: |
| | | Outrossi fez outra cantiga a outra dona a que davam preço com um peom que havia nome Vela, e diz assi
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| | | Agora oí d'ũa dona falar, |
| | | que quero bem, pero a nunca vi, |
| | | por tam muito que fez por se guardar: |
| | | poi[s] molher que nunca fora guardada, |
| 5 | | por se guardar de maa nomeada, |
| | | filhou-s'e pôso Vela sobre si. |
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| | | Ainda d'al o fez[o] mui melhor |
| | | que lhi devemos mais agradecer: |
| | | que nunca end'houve seu padre sabor |
| 10 | | nem lho mandou nunca, pois que foi nado; |
| | | e, a pesar dele, sen'o seu grado, |
| | | nom quer Vela de sobre si tolher. |
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Nota geral: Entenda-se a rubrica que acompanha esta cantiga: diziam que esta dona tinha uma ligação com um seu criado. É com a ambiguidade do nome do criado (Vela) que joga a cantiga, já que "pôr vela sobre si" significava, em sentido corrente, "pôr-se sob vigilância". A referência ao pai da dona deve entender-se neste contexto: ao contrário do que se passa nas outras famílias, onde os pais velam sobre as filhas e as fazem guardar, aqui é a filha que resolve "pôr vela" sobre si própria. A composição parece fazer, pois, também uma crítica implícita às "liberalidades" paternas.
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