Fernando Esquio


O voss'amigo trist'e sem razom
  vi eu, amig', [e] mui pouc'o per hei,
e preguntei-o porquê e nom sei
del se nom tanto que me disse entom:
 5des que el vira ũa sa senhor
ir d'u el era, fora sofredor
de grandes coitas no seu coraçom.
  
Tam trist'estava que bem entender
pode quem quer que o vir que trist'é
 10e preguntei-o, mais, per boa fé,
 nom pud'eu del mais d'atanto aprender:
des que el vira ũa que quer bem
ir d'u el era, por dereito tem,
'tá que a vir, de nom tomar prazer.
  
15Da sa tristeça houv'eu tal pesar
que foi a el e preguntei assi:
"em que coidava?", mais nom aprendi
del senom tanto que lhi falar:
des que el vira quem lhi coitas deu
20ir d'u el era, no coraçom seu,
tá que a vir, ledo nom pod'andar.
  
E entom pode perder seu pesar
da que el vira ir, veer tornar.



 ----- Aumentar letra ----- Diminuir letra

Nota geral:

Cantiga de amigo com visíveis ligações com uma anterior cantiga do trovador. Também aqui uma amiga relata à moça as mágoas de amor do seu amigo, no caso, por ver partir a sua senhora. E também aqui há uma insistência na expressão el vira (repetida no v. 5 de todas as estrofes), que poderá ter a leitura equivoca Elvira. Embora aqui essa leitura não seja tão evidente como na cantiga anterior, a ambiguidade pressente-se agora noutros traços pouco usuais, como o modo usado para identificar quem ele viu partir, por exemplo (note-se que a voz feminina relata que ele viu partir "uma sua senhora" e não exatamente a moça, numa ambiguidade que poderá ser voluntária); ou como a insistência na estranha expressão ir d´u el era (v. 6 de cada estrofe), para a qual, no caso, não temos explicação (embora uma explicação obscena não fosse impossível).



Nota geral


Descrição

Cantiga de Amigo
Mestria
Cobras singulares
Finda
(Saber mais)


Fontes manuscritas

B 1297, V 901
(C 1297)

Cancioneiro da Biblioteca Nacional - B 1297

Cancioneiro da Vaticana - V 901


Versões musicais

Originais

Desconhecidas

Contrafactum

Desconhecidas

Composição/Recriação moderna

Desconhecidas