João Airas de Santiago


Alguém vos diss', amig', e sei-o eu,
por mi miscrar convosco, que falei
com outr'homem, mais nunca o cuidei,
e, meu amig', e direi-vo-l[o] eu:
5       de mentira nom me poss'eu guardar,
       mais guardar-m'-ei de vos fazer pesar.
  
Alguém sabe que mi queredes bem
e pesa-lh'end'e nom pod'al fazer
senom que mi quer mentira põer;
10[e] meu amig'e meu lum'e meu bem
       de mentira nom me poss'eu guardar,
       mais guardar-m'-ei de vos fazer pesar.
  
E bem sei de quem tam gram sabor há
de mentir e nom teme Deus nem al,
15que mi assaca tal mentira e al,
[e], meu amig', e vedes quant'i há:
       de mentira nom me poss'eu guardar,
       mais guardar-m'-ei de vos fazer pesar.
  
De fazer mentira sei-m'eu guardar,
20mais nom de quem me mal quer assacar.



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Nota geral:

A donzela justifica-se perante o seu amigo: sabendo que algum intriguista invejoso lhe foi dizer que ela tinha falado com outro homem, garante-lhe que nunca tal coisa lhe passou pela cabeça. É que, não podendo evitar mentiras, evitará sempre dar-lhe qualquer desgosto. E mesmo se ela não mente, é-lhe difícil calar os caluniadores.



Nota geral


Descrição

Cantiga de Amigo
Refrão
Cobras singulares
Dobre: (vv. 1 e 4 de cada estrofe)
eu (I), bem (II), (III)
Finda
(Saber mais)


Fontes manuscritas

B 1039, V 629

Cancioneiro da Biblioteca Nacional - B 1039

Cancioneiro da Vaticana - V 629


Versões musicais

Originais

Desconhecidas

Contrafactum

Desconhecidas

Composição/Recriação moderna

Desconhecidas