Fernão Garcia Esgaravunha
Trovador medieval


Nacionalidade: Portuguesa

Notas biográficas:

Trovador português pertencente a uma das principais linhagens do reino, os Sousa. Filho de um dos mais antigos trovadores, D. Garcia Mendes de Eixo, e de D. Elvira Gonçalves de Toronho, Fernão Garcia deverá ter nascido em inícios do século XIII, pouco depois do seu irmão, o conde D. Gonçalo Garcia de Sousa, igualmente trovador. É já adulto em 1224, ano em que é mencionado pela primeira vez como tenente de Gouveia, detendo ainda a tenência de Celorico da Beira em 1230. Desaparecendo dos documentos até 1247, poderá ter-se ausentado para Castela ou mesmo para fora da Península, na sequência das tensões políticas que conduzirão à deposição de D. Sancho II. Nesse ano de 47, no entanto, está em Portugal, defendendo o partido de D. Afonso, Conde de Bolonha, já que é o protagonista de um célebre episódio detalhadamente relatado pela Crónica Geral de 1344, o desafio que lança em Trancoso a um dos mais fiéis partidários de D. Sancho II, o seu privado D. Martim Gil de Soverosa, a quem acusa de ser um dos principais instigadores da crise. Após o fim da guerra civil e a subida ao trono de Afonso III, acompanha o novo monarca, assumindo, em 1250, a tenência da Maia. Casa-se, em data não determinada, com D. Urraca Abril de Lumiares (viúva, em 1248, de D. João Martins de Riba de Vizela, primeiro casamento esse atestado numa cantiga satírica de João Soares Somesso). Segundo Resende de Oliveira1, poderia ter morrido por volta de 1251, ano a partir do qual desaparece da documentação régia, opinião que parece contrariada pelo facto de D. Urraca Abril ter sido amante de Afonso III entre 1248 e 1256 (ano da última doação que lhe faz o monarca, segundo dados de Leontina Ventura2). Assim sendo, é plausível que o seu casamento com D. Fernão Garcia se tenha realizado apenas nesta data e que Vicenç Beltran, partindo do facto de que os seus bens só parecem ter sido divididos em 1284, tenha razão quando crê que talvez tivesse vivido pelo menos até 12753.
Acrescente-se que o apelido Esgaravunha com que ficou conhecido D. Fernão Garcia de Sousa poderá ter ficado a dever-se, segundo D. Carolina Michaëlis4, ao facto de ter eventualmente usado unhas grandes.


Referências

1 Oliveira, António Resende de (1994), Depois do espectáculo trovadoresco. A estrutura dos cancioneiros peninsulares e as recolhas dos séculos XIII e XIV, Lisboa, Edições Colibri.

2 Ventura, Leontina (2006), D. Afonso III, Lisboa, Círculo de Leitores, p. 211.

3 Beltran, Vicenç (1998), “Tipos e temas trovadorescos, XV. Johan Soarez Coelho y el ama de don Denis”, Bulletin of Hispanic Studies, 75.
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4 Vasconcelos, Carolina Michaëlis de (1990), Cancioneiro da Ajuda, vol. II, Lisboa, Imprensa nacional - Casa da Moeda (reimpressão da edição de Halle, 1904), p. 348.

Ler todas as cantigas (por ordem dos cancioneiros)


Cantigas (por ordem alfabética):


A melhor dona que eu nunca vi
Cantiga de Amor

A que vos fui, senhor, dizer por mi
Cantiga de Amor

Des hojemais já sempr'eu rogarei
Cantiga de Amor

Esta ama, cuj'é Joam Coelho
Cantiga de Escárnio e maldizer

Hom'a que Deus bem quer fazer
Cantiga de Amor

Meu Senhor Deus, venho-vos eu rogar
Cantiga de Amor

Nenguem-mim, que vistes mal doente
Cantiga de Escárnio e maldizer

Nẽum conselho, senhor, nom me sei
Cantiga de Amor

Ora vej'eu o que nunca cuidava
Cantiga de Amor

Punhei eu muit'em me quitar
Cantiga de Amor

Quam muit'eu am'ũa molher
Cantiga de Amor

Quand'eu mia senhor conhoci
Cantiga de Amor

Que grave cousa, senhor, d'endurar
Cantiga de Amor

Quem vos foi dizer, mia senhor
Cantiga de Amor

Se Deus me leixe de vós bem haver
Cantiga de Amor

Se vos eu amo mais que outra rem
Cantiga de Amor

Senhor fremosa, convém-mi a rogar
Cantiga de Amor

Senhor fremosa, quant'eu cofondi
Cantiga de Amor

Senhor fremosa, que sempre servi
Cantiga de Amor

Tod'home que Deus faz morar
Cantiga de Amor