Pero Garcia de Ambroa
Jogral medieval


Nacionalidade: Galega

Notas biográficas:

Autor galego, muito provavelmente originário de S. Tirso de Ambroa, no norte da Galiza, ativo por meados do século XIII. A identificação exata de Pero de Ambroa tem suscitado, no entanto, algumas dúvidas, que um recente estudo de José António Souto Cabo1 parece em parte resolver. Na verdade, até recentemente, apenas se encontrava documentado na região, e entre 1228 e c. 1236, um Pero Garcia de Ambroa, cavaleiro proveniente de uma linhagem da pequena nobreza ligada ao magnate D. Rodrigo Gomes de Trava, cavaleiro esse que terá falecido por volta da última data referida. Mas as composições de Pero de Ambroa que os cancioneiros nos transmitiram, bem como algumas composições jocosas que lhe são dirigidas, parecem indiciar não só que o seu estatuto seria muito provavelmente o de jogral, mas também que este autor se encontrava ativo muito para além de 1237. Baseado nestes factos, e também na colocação das suas cantigas nos manuscritos, Resende de Oliveira2 não teve dúvidas em postular, pois, a existência de dois autores diferentes, um Pero Garcia de Ambroa, trovador e de cronologia mais recuada, a quem atribui a autoria da única cantiga de amor do conjunto (e é apenas na rubrica atributiva desta composição que é indicado o seu nome completo); e um Pero de Ambroa (não documentado), jogral, de cronologia mais tardia, autor das restantes.
Como se disse, recentemente Souto Cabo trouxe a público um conjunto de documentos muito elucidativos, não só referentes ao primeiro destes indivíduos, atestado já em 1203, mas, sobretudo, referentes ao segundo, cujo nome completo parece ter sido também Pero Garcia de Ambroa. Um desses documentos, lavrado entre 1261 e 1263 e relacionado com a doação de umas propriedades que lhe teriam pertencido, refere explicitamente uma viagem à terra de ultramar, onde teria falecido (à data do documento, já há algum tempo). Sendo as viagens ao Ultramar de Pero de Ambroa o tema central de um conjunto de composições jocosas que vários trovadores e jograis lhe dirigem, não parecem restar dúvidas de que o Pero Garcia de Ambroa referido neste documento é o nosso autor. De resto, o mesmo documento, um inventário de bens detidos por D. Múnio Fernandes de Rodeiro, permite ainda relacioná-lo com este magnate galego, ao que tudo indica figura central na fase inicial do movimento trovadoresco na Galiza.
Para Souto Cabo, não seria impossível que Pero Garcia de Ambroa tivesse ainda relações familiares com o seu homónimo de inícios do século XIII, muito embora tudo indique que o seu estatuto social fosse bem diferente - ou seja, que fosse efetivamente um jogral ao serviço do senhor de Rodeiro. E embora este investigador coloque apenas como hipótese que o autor presente nos cancioneiros seja apenas este jogral (ou seja, que a cantiga de amor também será da sua autoria), parece-nos ser esta a hipótese mais provável (até pelas razões complementares que desenvolvemos numa nota a essa cantiga), hipótese que, por isso mesmo, adotamos.
Na verdade, ainda mais recentemente (2014), Joaquim Ventura Ruiz3, analisando cuidadosamente todos os documentos referidos, nomeadamente os de Souto Cabo, não tem já dúvidas de que não teria havido dois, mas sim um único autor, ou seja, que o cavaleiro de cronologia mais recuada seria o mesmo do segrel de cronologia mais tardia, eventualmente o primeiro tendo passado "a ter que traballar a salario, tal vez como escudeiro no ámbito militar e como segrel no ámbito artístico, co nome simplificado á maneira de xograr: Pero de Ambroa. Sen o patronímico (García), que sería o indicador da condición de cabaleiro".
Seja como for, e pelo documento referido por Souto Cabo, sabemos, pois, que Pero Garcia de Ambroa terá falecido durante uma das suas expedições ao Ultramar, muito provavelmente por volta de 1257/1258 (talvez, acrescentamos, na expedição à praça norte-africana de Taount, perto de Orão, realizada pela armada de Afonso X exatamente em 1257, e na qual, segundo González Jiménez4, participaram numerosos galegos, ou, como propõe Ventura, na expedição a Salé, no ano seguinte). Estes dados permitem assim situar a sua atividade poética na corte de Fernando III e ainda nos anos iniciais do reinado de Afonso X, cronologia que está de acordo com as suas composições e com as que lhe são dirigidas.


Referências

1 Souto Cabo, José António (2006), “Pedro Garcia de Ambroa e Pedro de Ambroa”, Revista de Literatura Medieval, XVIII, Universidad de Alcalá.
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2 Oliveira, António Resende de (1994), Depois do espectáculo trovadoresco. A estrutura dos cancioneiros peninsulares e as recolhas dos séculos XIII e XIV, Lisboa, Edições Colibri.

3 Ventura, Joaquim (2014), "A trindade de Pedro Garcia de Ambroa", Revista de Cancioneros, Impresos y Manuscritos, nº 3.

4 González Jiménez, Manuel (1999), Alfonso X, Burgos, Editorial La Olmeda, 2ª Ed., p. 81.

Ler todas as cantigas (por ordem dos cancioneiros)


Cantigas (por ordem alfabética):


Ai meu amigo, pero vós andades
Cantiga de Amigo

[...] Ca vós nom sodes d'amor tam forçado
Cantiga de Escárnio e maldizer

De Pero Bõõ and'ora espantado
Cantiga de Escárnio e maldizer

Grave dia naceu, senhor
Cantiga de Amor

- Joam Baveca, fé que vós devedes
Tenção

Maior Garcia est homiziada
Cantiga de Escárnio e maldizer

O que Balteira ora quer vingar
Cantiga de Escárnio e maldizer

Ora vej'eu que est aventurado
Cantiga de Escárnio e maldizer

Os beesteiros daquesta fronteira
Cantiga de Escárnio e maldizer

Pedi eu o cono a ũa molher
Cantiga de Escárnio e maldizer

Pero d'Armea, quando composestes
Cantiga de Escárnio e maldizer

Querri'agora fazer um cantar
Cantiga de Escárnio e maldizer

Sabedes vós: meestre Nicolao
Cantiga de Escárnio e maldizer

Se eu no mundo fiz algum cantar
Cantiga de Escárnio e maldizer