Pero Garcia de Ambroa - Todas as cantigas

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Cancioneiros:

B 73
(C 72)

Descrição:

Cantiga de Amor

Mestria

Grave dia naceu, senhor,
quem se de vós houv'a partir
e se teve por devedor
de vos amar e vos servir
5- como m'eu de vós partirei
ora; quando m'alongarei
de vós, viverei sem sabor.
  
Em tal coita me vi, senhor,
que sol nom vos ousei falar;
10e vós, em lezer e sabor,
havíades de me matar;
ca me nom quisestes catar
dos olhos, nem [me] preguntar
por que havia tal pavor.
  
15Que sol nom vos ousei dizer
o por que eu fora ali
u vos achei e mais temi
de vos pesar en ca morrer,
com'ora por vós morrerei;
20e vejo que mal baratei
que ante nom morri log'i.
  
Ca mui maior coita haverei,
senhor, quand'eu de vós hoer
desamor voss[o] e tever
25este joguete - [e] terrei
convosc[o] e vosso serei
mentr'eu viver; e guisarei
como haja vosso desamor.
  
[M]entre vos eu poder servir,
30vosso desamor hav[er]ei;
ca nom hei eu a vos fogir,
nem outra senhor filharei
que me de vós possa en partir;
mais leixar-me-vos-ei matar,
35pois m'outro conselho nom sei.


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Cancioneiros:

B 1235, V 840
(C 1235)

Descrição:

Cantiga de Amigo

Refrão

Ai meu amigo, pero vós andades
jurando sempre que mi nom queredes
bem ant'as donas, quando as veedes,
entendem elas ca vos pe[r]jurades
5       e que queredes a mi tam gram bem
       com'elas querem os que querem bem.
  
E pero vós ant'elas jurar ides
que nom fazedes quanto vos eu mando,
quanto lhis mais ides em mim falando,
10atant'en[ten]dem mais que lhis mentides
       e que queredes a mi tam gram bem
       com'elas querem os que querem bem.
  
E andad'ora de camanho preito
vós vos quiserdes andar todavia,
15ca o cantar vosso de maestria
entendem elas que por mi foi feito
       e que queredes a mi tam gram bem
       com'elas querem os que querem bem.


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Cancioneiros:

B 1572

Descrição:

Cantiga de Escárnio e maldizer

Mestria

[...]
  
Ca vós nom sodes d'amor tam forçado
como dizedes, nem vos ar convém
de o seerdes, nem ar é guisado
5daqueste preito sair-vos a bem;
nen'o queirades vós muito seguir,
ca d'amar donas nem de as servir
nom saberedes vós i dar recado.
  
Mais dá-lo-edes em panos tomar,
10se vo-los derem, e enos guardar
e em vendê-los em aquel mercado.


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Cancioneiros:

B 1573

Descrição:

Tenção

Mestria

- Joam Baveca, fé que vós devedes,
que me digades ora ũa rem
que eu nom sei, e segundo meu sem,
tenh'eu de pram de vós que o sabedes,
5e por aquesto vos vim preguntar:
cantar d'amor de quem nom sab'amar,
que me digades porque lho dizedes.
  
- Pero d'Ambroa, vós nom m'oiredes
dizer cantar - esto creede bem -
10senom bem feit'e igual; e por en
nom dig'estes "bõos" que vós fazedes,
ante digo dos que faz trobador
que troba bem e há coita d'amor;
e vós, por esto, nom me vos queixedes.
  
15- Joam Baveca, se vós nom queredes
os meus cantares dizer ant'alguém,
direi-vos ora como vos avém:
nunca por en contra mim per dizedes.
Mais lo que sabe molher bem querer,
20bem quanto sab'o asno de leer,
por namorado porque o metedes?
  
- Pero d'Ambroa, vós mais [nom] podedes
saber de mim do que vos já dix'en:
os cantares que eu digo fez quem
25há grand'amor; mais pois sanha prendedes,
aqui ante todos leix'eu a tençom;
ca, se quiséssedes caber razom,
dig'eu verdad', esto nom duvidedes.


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Cancioneiros:

B 1574

Descrição:

Cantiga de Escárnio e maldizer

Mestria

Os beesteiros daquesta fronteira,
pero que cuidam que tiram mui bem,
quero-lhis eu conselhar ũa rem:
que nom tirem com Maria Balteira;
5ca todos quantos ali tira[ro]m
todos se dela com mal partirom
assi é sabedor e arteira.
  
Tirou ela com ũũ beesteiro,
destes d'el-rei, que sabem bem tirar;
10e primeira vez, polo escaentar,
leixou-s'i logo perder um dinheiro
e des i outr'; e pois esqueentado,
tirou com el[e], e há del levado
quanto tragia [a]tẽ no bragueiro.
  
15Os beesteiros dos dous carreirões
tiraram com ela, e[m]pós o sinal;
nem os outros, que tiravam mui mal,
acertarom a dous dos pipeões;
e forom tirando e bevendo do vinho;
20o beesteiro, com'era mininho,
nom catou quando s'achou nos colhões!


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Cancioneiros:

B 1575

Descrição:

Cantiga de Escárnio e maldizer

Mestria

De Pero Bõo and'ora espantado
de como era valent'e ligeiro
e vivedoiro assaz e arriçado;
e disse-mi agora um cavaleiro,
5que o leixara eire, ao serão,
seer ant'a sa porta guarid'e são
e, ante luz, acharom-no peideiro.
  
E com'é traedor aqueste mundo
e maao a quem se del muito fia!
10Ca de Santiag'atá Sam Fagundo
mais vivedoiro homem nom havia.
E dizem todos: - Quen'o assi visse
jazer peendo, como se dormisse,
já del mazela nunca prenderia!
  
15E este era o mais arriçado
home de toda esta nossa terra,
e viveu sempr'em exequ'[e] em guerra;
mais peeu ora e, a Deus loado,
dizem os homens, e dizem dereito,
20que peeu bem, pois peeu em seu leito;
pero nom peeu bem maenfestado.
  
El peeu quando cantavam os galos;
e por sa molher, que i nom chegava,
nõn'o ousavam changer seus vassalos;
25mais um deles, o que el mais amava,
e que sempr'ante muito bem fazia,
já s'entom a el chegar nom podia,
atam mal dizia que lhe cheirava.


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Cancioneiros:

B 1576

Descrição:

Cantiga de Escárnio e maldizer

Mestria

Pedi eu o cono a ũa molher,
e pediu-m'ela cem soldos entom;
e dixe-lh'eu logo: - Mui sem razom
me demandades; mais, se vos prouguer,
5fazed'ora - e faredes melhor -
ũa soldada polo meu amor,
a de parte, ca nom hei mais mester.
  
Fazem soldada do ouro, que val
mui mais ca o vosso cono, de pram;
10fazem soldada de vinh'e de pam,
fazem soldada de carn'e de sal;
por en devedes do cono fazer
soldada, ca nom há-de falescer,
se retalhardes, quem vos compr'o al.
  
15E podede-lo vender, eu o sei,
tod'a retalho, porque saberám
que retalhades, e comprar-vos-am
todos del parte, como eu comprei.
Ainda vos d'al farei mui melhor:
20se do embiigo havedes sabor,
contra o rabo vo-lo filharei.


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Cancioneiros:

B 1577

Descrição:

Cantiga de Escárnio e maldizer

Mestria

Sabedes vós: meestre Nicolao,
(o que antano mi nom guareceu,
aquel que dizedes meestre mao)
vedes que fez, per ervas que colheu:
5do vivo mort'e do cordo sandeu,
e faz o ceg'adestrar pelo pao.
  
E direi-vos eu doutra maestria
que aprendeu ogan'em Mompiler:
nom vem a el home com maloutia
10de que nom leve o mais que poder.
E diz: - Amigo, esto t'é mester:
vem a dar-mi algo d'ôi a tercer dia.
  
Ca bem vi eu ena ta catadura
que és doent'e quer[es] já guarir;
15e aqueste mal, que te tanto dura,
ora to quero eu mui bem departir:
se dest'enverno mi hás a sair,
já nom guarrás meos da caentura.
  
E outra rem te direi, meu irmão:
20se meu conselho quiseres creer,
ou se quiseres que em ti meta mão,
dá-me quant'hás e poderes haver;
ca, des que eu em ti mão meter,
serás guarido, quando fores são.
  
25E nom sabemos, dê'los tempos d'ante,
tam bom meestre, pois aqui chegou,
que tam bem leve seu preç'adeante,
per maestrias grandes que usou:
faz que nom fal'o que nunca falou
30e faz do manco que se nom levante.


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Cancioneiros:

B 1578

Descrição:

Cantiga de Escárnio e maldizer

Mestria

Maior Garcia est homiziada,
que tanto guarda seu corpo, de pram,
que já de noite nunca ela mam,
como as outras, na sua pousada;
5e guarda-se já nunca tanto vi:
ca, u mam hoje, nom marrá crás i,
des i, de noite, nunca dorme nada.
  
E com tod'est', assi é custuiada,
que nom pod'home sabe[r] seu talam,
10e em mais de cem logares a verám
deitar, mais pouco é i sa ficada;
e u alberga, direi-vos que faz:
nunca homem nẽum na casa jaz
que o a me nom cate ũa vegada.
  
15E anda-s'ela tam dessegurada,
come se nunca i prendesse afã;
nom est assi, ca muitos vos dirám
que bem mil vezes lhe metem ciada,
e nõn'a pode nulh'homem colher
20ena mão, se i a nom acha jazer
ou quando 'sté, ou quando é levantada.
  
E u a poderá homem achar
se nom quando se quiser levantar,
ou ao serão ou aa madrugada?


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Cancioneiros:

B 1596, V 1128
(C 1596)

Descrição:

Cantiga de Escárnio e maldizer

Mestria

Ora vej'eu que est aventurado
já Pedr'Amigo e que lhi fez Deus bem,
ca nom desejou do mund'outra rem
senom aquesto que há já cobrado:
5ũa ermida velha que achou;
e entrou dentr'; e pois que i entrou,
de sair dela sol nom é pensado.
  
E pois achou lugar tam aguisado
em que morasse, por dereito tem
10de morar i; e vedes que lh'avém:
con'a ermida é muit'acordado
e diz que sempre querrá i morar
e que quer i as carnes marteirar,
ca deste mundo muit'há já burlado.
  
15E nom sei eu no mund'outr'home nado
que s'ali fosse meter; e mal sem
faz, se o ende quer quitar alguém:
ca da ermida tant'é el pagado,
que há jurado que nom saia d'i
20morto nem viv', e sepultura i
tem em que jasca, quando for passado.


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Cancioneiros:

B 1597, V 1129

Descrição:

Cantiga de Escárnio e maldizer

Mestria

O que Balteira ora quer vingar
das desonras que no mundo prendeu,
se bem fezer, nom dev'a começar
em mi, que ando por ela sandeu,
5mais começ'ant'em reino de Leon,
u prês desonras de quantos i som,
que lh'as desonras nom querem peitar.
  
E em Castela foi-a desonrar
muito mal home, que nom entendeu
10o que fazia, nem soube catar
quam muit'a dona per esto perdeu;
[s]e quem a vinga fezer com razom,
destes la vingue, ca em sa prisom
and'eu e dela nom m'hei d'emparar.
  
15E os mouros pense de os matar,
ca de todos gram desonra colheu
no corpo, ca nom em outro logar;
e outra tal desonra recebeu
dos mais que há no reino d'Aragom;
20e deste'la vingu'el, ca de mim nom,
pois há sabor de lhi vingança dar.


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Cancioneiros:

B 1598, V 1130

Descrição:

Cantiga de Escárnio e maldizer

Mestria

Querri'agora fazer um cantar,
se eu podesse, tal a Pedr'Amigo,
que se nom perdess'el por en comigo
nem eu com el; pero nom poss'achar
5tal razom em que lho possa fazer,
que me nom haja com el de perder
e el comigo, des que lh'eu trobar.
  
Ca já outra vez, quando foi entrar
ena ermida velha Pedr'Amigo,
10trobei-lh'end'eu, e perdeu-s'el comigo
e eu com el, quando vim d'Ultramar;
mais ora já, pois m'el foi cometer,
outra razom lhi cuid'eu a mover,
de que haja dous tamanho pesar.
  
15Ca, se acha per u m'escatimar,
nom vos é el contra mi Pedr'amigo,
e per aquesto perder-s'-á comigo
e eu com el; ca, poil'eu começar,
tal escátima lhi cuid'eu dizer
20que, se mil anos no mund'el viver,
que já sempr'haja de que se vingar.


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Cancioneiros:

B 1599, V 1131
(C 1599)

Descrição:

Cantiga de Escárnio e maldizer

Mestria

Se eu no mundo fiz algum cantar,
como faz home com coita d'amor,
e por estar melhor com sa senhor,
acho-me mal e quero-m'en quitar:
5ca ũa dona, que sempre loei
em meus cantares, e por que trobei,
anda morrendo por um escolar.
  
Mais eu me matei, que fui começar
com dona atam velha [e] sabedor;
10pero conorto m'hei [e] gram sabor
de que a veerei cedo pobr'andar:
ca o que gaanhou em cas d'el-rei,
andand'i pedind', e o que lh'eu dei,
todo lho faz o clérigo peitar.
  
15Mais quem lhi cuida nunca rem a dar
assi s'ach'en com[o] eu ou peior!
E poila velha puta probe for,
non'a querrá pois nulh'home catar,
e será dela como vos direi:
20demo lev'a guar[i]da que lh'eu sei,
ergo se guarir per alcaiotar.


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Cancioneiros:

B 1603, V 1135
(C 1603)

Descrição:

Cantiga de Escárnio e maldizer

Mestria

Rubrica:

Esta outra cantiga fez Pero d'Ambroa a Pero d'Armea por estoutra de cima que fezera

Pero d'Armea, quando composestes
o vosso cu, que tam bem parescesse,
e lhi revol e concela posestes,
que donzela de parescer vencesse,
5e sobrancelhas lhi fostes põer
- tod'est', amigo, soubestes perder
polos narizes, que lhi nom posestes.
  
E, Dom Pedro, põede-lh'os narizes,
ca vos conselh'eu o melhor que posso;
10e matarei ũũ par de perdizes,
que atam bel cuu com'esse vosso,
ainda que o home queira buscar,
que o nom possam em toda a terra achar
de Sam Fagundo atá Sam Felizes.
  
15E, Dom Pedro, os beiços lh'er põede
a esse cu, que é tam bem barvado,
e o granhom bem feito lhi fazede
e faredes o cu bem arrufado;
e punhade logo de o encobrir,
20ca, se vejo Dom Fernand'Escalho vir,
sodes solteiro, e seredes casado.