Pessoas referidas em cantigas
D. Estêvão
Descrição
Dado desconhecermos o seu apelido, é difícil a identificação exata desta personagem. Considerando o importante conjunto de composições que lhe são dirigidas, e que o situam em contexto português, deverá tratar-se de uma figura com algum peso social, ou, pelo menos, pertencente a uma linhagem partidária de Afonso III, em destaque por alturas da guerra civil e anos imediatamente seguintes. Assim sendo, de entre as personagens homónimas e enquadráveis nestes parâmetros, três poderão eventualmente ser referidas como mais ou menos plausíveis: 1) D. Estêvão Martins de Briteiros, um primo direito do trovador, conhecido apoiante e futuro chanceler de Afonso III, Rui Gomes de Briteiros. Muito embora pouco se saiba deste seu primo D. Estêvão, não consta que tivesse sido casado ou tivesse tido descendência1. Acrescente-se que os Briteiros possuíam bens em Amarante2, o que coincide com a referência a umas partilhas nessa localidade feito numa das cantigas. 2) D. Estêvão Peres de Aboim (irmão do trovador e magnate D. João de Aboim, outra das figuras centrais da corte do Bolonhês), que foi casado em Santarém com D. Ximena Soares de Alfanje (LL 36X8, Z9; mais dados em Pizarro, II, p. 871s). 3) Ou mesmo talvez o trovador Estêvão Raimundo de Portocarreiro (cuja família, igualmente próxima do Bolonhês, detinha bens em Coimbra, tendo o pai morrido em 1247, o que poderá significar partilhas nessa cidade, igualmente referidas numa das composições). Para além da sua qualidade de trovador, que os cancioneiros atestam, informa-nos ainda o Livro de Linhagens do Conde D. Pedro (43H6) que foi casado com ũa boa dona de Santarém, que tinha sido barregã do rei, circunstância que poderia adaptar-se bem a uma das cantigas do ciclo. Estêvão Raimundo parece, no entanto, pertencer à geração seguinte, e enquadrar-se menos bem na cronologia e no perfil desenhado nas cantigas em questão. Em 2021, Ângela Correia, num estudo dedicado a este ciclo de cantigas3, propôs uma nova identificação para D. Estêvão, segundo a qual este nome seria uma simples máscara literária, atrás da qual se esconderia o bispo de Braga, João Viegas de Portocarreiro. Tratando-se de uma proposta que não acompanhamos, por demasiado especulativa, a ideia de que o satirizado poderia ser um clérigo e não um cavaleiro parece-nos muito produtiva. Assim sendo, avançamos com mais dois nomes4, no sentido de lançar mais algumas pistas para a discussão: 4) Estêvão Anes de Vasconcelos, que foi cónego, arcediago e vigário de Braga, sendo também, depois da subida ao trono de Afonso III, clérigo do rei. No final da vida, foi brevemente bispo de Lisboa (1286-1287). Era um dos filhos de João Peres de Vasconcelos, o Tenreiro, e neto de Teresa Soares da Silva, irmã do célebre arcebispo de Braga D. Estêvão Soares (a quem Angela Correia, na sua hipótese, supõe que os trovadores foram buscar o nome). Como seu sobrinho, Estêvão Anes recebeu bens do arcebispo em 1228. O seu irmão, Pero Anes, era vizinho de Santarém. 5) Estêvão Moniz, que foi porcionário, cónego e tesoureiro da Sé de Coimbra. Com formação em direito e medicina, tendo estudado em Montpellier, foi depois físico de Afonso III. No seu testamento, datado de 1285, vê-se que era um homem rico, sobretudo em numerário (o que não é frequente).
Referências 1 Pizarro, José Augusto (1999), Linhagens medievais portuguesas: genealogias e estratégias 1279-1325, vol. II, Porto, Centro de Estudos de Genealogia, Heráldica e História da Família da Universidade Moderna, p. 148. Aceder à página Web
2 Pizarro, José Augusto (1999), Linhagens medievais portuguesas: genealogias e estratégias 1279-1325, vol. II, Porto, Centro de Estudos de Genealogia, Heráldica e História da Família da Universidade Moderna, p. 144, nota 7. Aceder à página Web
3 Correia, Ângela (2021), O outro nome de «Don Estevan»: oito sátiras trovadorescas relacionadas com Sancho II de Portugal, Lisboa, Biblioteca Nacional.
4 Norte, Armando (2014), "Homens de letras e homens de leis ao serviço da monarquia portuguesa (séculos XII-XIII)", in História (São Paulo) v.33, n.1. Aceder à página Web
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Cantigas que referem esta pessoa
Dom Estêvam fez[o] sa partiçom, João Soares Coelho (Linha 1): Dom Estêvam fez[o] sa partiçom
Dom Estêvam, em grand'entençom, Rui Queimado (Linha 1): Dom Estêvam, em grand'entençom
Dom Estêvam, que Lhi nom gradecedes, João Soares Coelho (Linha 1): Dom Estêvam, que Lhi nom gradecedes
Dom Estêvam achei noutro dia, Mem Rodrigues Tenoiro (Linha 1): Dom Estêvam achei noutro dia
Dom Estêvam diz que desamor, Airas Peres Vuitorom (Linha 1): Dom Estêvam diz que desamor (Linha 1): Dom Estêvam, eu eiri comi
Dom Estêvam, eu eiri comi, Mem Rodrigues Tenoiro ou Airas Peres Vuitorom (Linha 1): Dom Estêvam, eu eiri comi
Dom Estêvam, tam de mal talam, Airas Peres Vuitorom (Linha 1): Dom Estêvam, tam de mal talam
Quem diz de Dom 'Stêvam que nom vê bem, João Soares Coelho (Linha 1): Quem diz de Dom 'Stêvam que nom vê bem
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