João Soares Somesso


Quand'eu estou sem mia senhor,
sempre cuido que lhi direi,
quando a vir, o mal que hei
por ela e por seu amor.
5E poila vi, assi mi avém
que nunca lh'ouso dizer rem.
  
Ca hei pavor de lhi pesar,
se lho disser. E que farei?
Se me calar, podê-la-ei
10veer, enquanto lhi negar
ca a nom vejo com pavor
que lh'haja, nem hei en sabor.
  
E mentre o negar poder,
algũa vez a ve[e]rei.
15Pero que val? Ca perder-m'-ei
pois, se m'ela bem nom fezer.
E nom sei en qual escolher,
de me calar ou lho dizer.
  
Se lho disser e me mandar
20que a nom veja, morrerei!
E se lho nom dig', haverei
gram coita já, mentre durar!
Ante que em coita viver
sempre, direi-lho por morrer!



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Nota geral:

Quando o trovador não está com a sua senhora só pensa em dizer-lhe, quando a vir, o que sofre por ela e pelo seu amor. Mas, quando a vê, nunca lhe ousa dizer nada. E o motivo é o medo de lhe desagradar. E assim não sabe o que fazer: se se calar, poderá continuar a vê-la, não lhe confessando que é o medo que o impede de ir vê-la, e escondendo-lhe o gosto que tem nisso. Mas de que lhe valerá agir assim? pergunta. Irá depois desesperar, se ela não lhe conceder os seus favores. De modo que hesita: deverá calar-se? Deverá falar? Se lhe falar, e ela o proibir de a voltar a ver, decerto morrerá. Se se calar, irá sofrer durante toda a vida. De modo que decide (nos dois últimos versos) que, melhor do que sofrer uma vida inteira, o melhor será falar para morrer.



Nota geral


Descrição

Cantiga de Amor
Mestria
Cobras singulares (rima b uníssona)
Finda
(Saber mais)


Fontes manuscritas

B 125

Cancioneiro da Biblioteca Nacional - B 125


Versões musicais

Originais

Desconhecidas

Contrafactum

Desconhecidas

Composição/Recriação moderna

Desconhecidas