Nota geral: Nesta cantiga, cujas circunstâncias históricas exatas nos escapam, Airas Nunes relata o que Lapa chama "uma cena de violência tipicamente medieval"1;. A dita cena, um ataque noturno a uma companhia em fuga, ter-se-á passado, como supõe José António Souto Cabo2, com o bispo eleito de Lugo, D. Fernando Peres de Páramo (1286-1294), de cujo séquito Airas Nunes fez parte. Por essa altura o trovador teria por volta de 56 anos, o que se coaduna com os seus referidos cabelos canos. Fosse qual fosse o bispo e os motivos da sua fuga, o certo é que a vítima parece ter sido o próprio trovador, a acreditarmos no que relata a cantiga, dita na primeira pessoa. Não deixa de ser um pouco estranha esta confissão das sevícias e insultos sofridos. Em 1284, como indica Resende de Oliveira3, D. Sancho IV de Castela manda entregar a Airas Nunes uma soma de dinheiro para comprar um cavalo e vestuário, o que poderia relacionar-se com a cena aqui descrita. Mas, atendendo à data desta doação, e sendo a identidade do bispo a que Souto Cabo sugere, ela seria anterior à cena aqui descrita. Acrescente-se que a lição dos códices está bastante danificada nas duas últimas estrofes, o que não facilita as coisas.
Referências 1 Lapa, Manuel Rodrigues (1970), Cantigas d´Escarnho e de Maldizer dos Cancioneiros Medievais Galego-Portugueses, 2ª Edição, Vigo, Editorial Galaxia.
2 Souto Cabo, José António (2023), “Ca o vej’eu assaz om’ordinhado. Airas Nunes no “coro” clerical trovadoresco”, en Madrygal. Revista de Estudios Gallegos> 26. Aceder à página Web
3 Oliveira, António Resende de (1994), Depois do espectáculo trovadoresco. A estrutura dos cancioneiros peninsulares e as recolhas dos séculos XIII e XIV, Lisboa, Edições Colibri.
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