Afonso X


O genete
pois remete
seu alfaraz corredor
estremece
5e esmorece
o coteife com pavor.
  
Vi coteifes orpelados
 estar mui mal espantados
e genetes trosquiados
10corriam-nos arredor;
tinham-nos mal aficados
[ca] perdian'a color.
  
Vi coteifes de gram brio
eno meio do estio
15estar tremendo sem frio
ant'os mouros d'Azamor;
e ia-se deles rio
que Auguadalquivir maior.
  
Vi eu de coteifes azes,
  20com infanções iguazes,
 mui peores ca rapazes;
e houveram tal pavor,
que os seus panos d'arrazes
tornarom doutra color.
  
25Vi coteifes com arminhos,
conhecedores de vinhos,
e rapazes dos martinhos
que nom tragiam senhor
sairom aos mesquinhos,
 30e fezerom o peor.
  
Vi coteifes e cochões
com mui [mais] longos granhões
que as barvas dos cabrões:
[e] ao som do atambor
35os deitavam dos arções
ant'os pees de seu senhor.



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Nota geral:

Mais uma cantiga que nos transporta para os campos de batalha da chamada Reconquista cristã, e na qual Afonso X, com um realismo pleno de ironia, nos traça o quadro do terror dos soldados-vilãos (os coteifes) à aproximação da cavalaria inimiga, os temíveis genetes africanos muito certamente os voluntários benimerins de Marrocos (que se caracterizavam pelas cabeças rapadas1), vindos em auxílio do rei de Granada, no contra-ataque muçulmano que este rei protagonizou por volta de 1264, e de que resultou a derrota das tropas cristãs em Alcalá la Real2.
O refrão inicial, com o seu ritmo muito vivo, se não é caso único nos cancioneiros, é, no entanto, pouco habitual. Como lembra Carolina Michaelis (nota 47)3, o modelo métrico desta cantiga parece ser o da cantiga 24 do trovador catalão/ provençal Guilem de Berguedà (Un trichaire/ preste laire/ vol que chan pus suy chantaire).

Referências

1 Martinez-Gros, Gabriel (1997), Identité andalouse, Arles, Actes du Sud, p. 130.

2 González Jiménez, Manuel (1999), Alfonso X, Burgos, Editorial La Olmeda, 2ª Ed..

3 Vasconcelos, Carolina Michaëlis de (2004), "O almoço dos reis hispanos", in Glosas Marginais ao Cancioneiro Medieval Português (trad. do texto de 1905) , Coimbra, Acta Universitatis Conimbrigensis.



Nota geral


Descrição

Escárnio e Maldizer
Mestria
Cobras singulares (rima b uníssona)
(Saber mais)


Fontes manuscritas

B 491, V 74

Cancioneiro da Biblioteca Nacional - B 491

Cancioneiro da Vaticana - V 74


Versões musicais

Originais

Desconhecidas

Contrafactum

Desconhecidas

Composição/Recriação moderna

Cantiga de escarnho do rei Alfonso X el sabio      versão audio disponível

Versão de Miro Casabella