Garcia Mendes de Eixo

Rubrica:

 

Esta cantiga foi feita a Roi d'Espanha, [c]a mi faliu con'[o] condado (?)


  Alá u nazq la Torona
 e los pavéns son [au]tan[s]
 e la terra é tro bona!
 E já quites son los mans!
5C'ora me volho tornar
a Sousa, a lo mon logar,
 que me adosa e me saudona.
  
La auga, que ten, me sona
que corre i, u é Natal,
10e la folha assi verdona
que nul temp non lhi faz mal;
...........................[ar]
tod'om se deu a pagar
de l'odor que de si dona.
  
 15[L]a chontene é tro bona
que nulh'om non lhi acha par;
que malos son d'asembrar
 los faisons en la Tor[o]na
a quen non porta culhar.



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Nota geral:

Composição de caráter muito particular, esta única cantiga de D. Garcia Mendes d´Eixo que nos chegou não fará exatamente parte da tradição galego-portuguesa, uma vez que está escrita no que parece ser ou provençal ou um dos seus dialetos (eventualmente gascão, como justificamos brevemente na nota antroponímica). Até por este motivo, a sua edição não é fácil. A juntar a esta dificuldade, os numerosos erros que são detetáveis no manuscrito (palavras-rima que não rimam, versos trocados, estrofes incompletas, por exemplo), tornam a sua reconstituição extremamente problemática em muitos passos. De qualquer forma, e mesmo através destas dificuldades, parece claro que D. Garcia Mendes d´Eixo, da ilustre família dos Sousa, faz aqui o elogio da sua terra natal, paraíso de verdura e de frescura na memória de quem está longe e a ela se dispõe a voltar. Também por esta temática, e pelo claro tom emotivo e biográfico que a atravessa, a composição se distingue do conjunto de composições que os cancioneiros nos transmitiram, sendo mesmo difícil classificá-la num género bem definido.
A cantiga vem acompanhada de uma rubrica explicativa, infelizmente também assaz obscura e de difícil edição, onde a única informação certa é a sua dedicatória a um Rui d´Espanha. De qualquer forma, ela datará provavelmente do final do exílio de cinco anos que D. Garcia Mendes passou no reino de Leão (em parte certamente na Toronha, região galega do Baixo-Minho, onde casou, e que é referida na cantiga), e será anterior a 1217, ano do seu regresso a Portugal. Trata-se, pois, também, de uma das mais antigas composições dos cancioneiros. Quanto ao seu sentido específico, que parece incluir uma dimensão política, damos, nas notas, algumas sugestões.
Face aos óbvios problemas de edição que a composição levanta, linguísticos, mas também contextuais, optámos por intervir o menos possível na versão que nos é transmitida pelo Cancioneiro da Biblioteca Nacional (e apenas por ele). Mantivémos, assim, mesmo as formas que parecem afastar-se um pouco do provençal – mas, para além de não sabermos com segurança se seria mesmo em occitânico canónico que a cantiga teria sido escrita, não sabemos igualmente qual seria a competência linguística do trovador numa língua que não era a sua. Sem pensarmos que se trata de uma peça bilingue, como, por vezes, tem sido sugerido, também não parece impossível que a interferência da língua de origem do seu autor, o galego-português, tivesse conduzido a certas formas híbridas. Mantivemos igualmente a disposição que têm os versos no manuscrito, entendendo tratar-se de versos de sete sílabas (ainda que os versos agudos pareçam ter oito). Quanto à irregularidade estrófica, a ela se fará referência nas notas, onde se justificarão as leituras em que nos fixámos, mas que não podem deixar de ser, em muitos passos, meramente hipotéticas.



Nota geral


Descrição

Género incerto
Mestria
Cobras uníssonas (rima b singular)
(Saber mais)


Fontes manuscritas

B 454
(C 454)

Cancioneiro da Biblioteca Nacional - B 454


Versões musicais

Originais

Desconhecidas

Contrafactum

Desconhecidas

Composição/Recriação moderna

Desconhecidas