Afonso Sanches


 Pois que vós per i mais valer cuidades,
mal vos quer'eu conselhar, mia senhor;
pera sempre fazerde'lo peior
quero-vos eu dizer como façades:
5amad'aquel que vos tem em desdém
e leixad'a mim, que vos quero bem,
 [e] nunca vós melhor [en]fus'enchades.
  
 Al vos er quero dizer que faredes,
pois que vos já mal hei de conselhar;
10pois per i mais cuidades acabar,
assi fazede como vós fazedes:
fazede bem sempr'a quem vos mal faz,
e matade-mi, senhor, pois vos praz,
e nunca vós melhor mouro matedes.
  
  15Ca nom sei homem que se mal nom queixe
do que m'eu queixo - d'haver sempre mal;
 por en dig'eu, com gram coita mortal:
aquel que vos filhou nunca vos leixe
e moira eu por vós, com'é razom,
20e pois ficardes com el, des entom
 coçar-vos-edes com a mão do peixe.
  
Do que dirám pois, se Deus vos perdom,
por vós, senhor, quantos no mundo som,
 atade todo e fazed'end'um feixe.



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Nota geral:

Outra cantiga que se situa na mesma zona de fronteira entre lirismo e sátira que encontramos nas duas composições do trovador que precedem esta nos manuscritos. Aqui essa fronteira é marcada pelo tom desabrido com que D. Afonso Sanches se dirige à sua senhora, que o despreza, embora seja, por sua vez, desprezada por um outro, que ela só amaria para se fazer valer. Todas as estrofes terminam com sugestivas imagens, que provêm de expressões populares e que não teriam cabimento no universo linguisticamente fechado das cantigas de amor.



Nota geral


Descrição

Escárnio e Maldizer
Mestria
Cobras singulares
Finda
(Saber mais)


Fontes manuscritas

B 414, V 25

Cancioneiro da Biblioteca Nacional - B 414

Cancioneiro da Vaticana - V 25


Versões musicais

Originais

Desconhecidas

Contrafactum

Desconhecidas

Composição/Recriação moderna

Desconhecidas