Anónimo

Rubrica:

 

Esta cantiga fezerom quatro donzelas a Marõot d’Irlanda, em tempo de Rei Artur, porque Marõot filhava tôdalas donzelas que achava em guarda dos cavaleiros, se as podia conquerer deles, e enviava-as para Irlanda, para serem sempre em servidom da terra. E esto fazia el porque fora morto seu padre por razom de ũa donzela que levava em guarda.
(
Rubrica no final da Arte de Trovar): Esta cantiga é a primeira que achamos que foi feita e fezerom-na quatro donzelas em tempo de rei Artur a Maraot d’Irlanda per la ... e tornamo-la em lenguagem palavra per palavra, e diz as[s]i: «O Maraot [...] mal grado».


 O Marot haja mal grado,
porque nós aqui cantando
andamos tam segurado,
a tam gram sabor andando!
5       Mal grad'haja, que cantamos
       e que tam em paz dançamos!
  
Mal grad'haja, pois cantando
nós aqui danças fazemos,
a tam gram sabor andando,
10que pouco lho gradecemos!
       Mal grad'haja, que cantamos
       e que tam em paz dançamos!
  
E venha-lhe má gaança,
porque nós tam seguradas
15andamos fazendo dança,
cantando nossas bailadas!
       Mal grad'haja, que cantamos
       e que tam em paz dançamos!



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General note:

Referindo matéria especificamente arturiana, esta bailada amaldiçoa Morhout, rei de Irlanda, que, como diz a rubrica, filhava (raptava) todas as donzelas que encontrava à guarda dos cavaleiros, se as conseguia conquistar, e enviava-as para a Irlanda, para ficarem para sempre prisioneiras.
Embora se desconheça o modelo direto deste lai, o segundo dos cinco que abrem o Cancioneiro da Biblioteca Nacional, ele parte certamente do episódio conhecido como "A rocha das donzelas", do Tristan en prose, episódio no qual umas donzelas guardam prisioneiros Morhout e Galvão. Uma parte desse episódio está presente no fragmento do Merlim galego-português que nos chegou.
A composição é objeto de duas rubricas no manuscrito: a que precede imediatamente o lai (e que transcrevemos em primeiro lugar), mas igualmente uma outra, copiada por Colocci, com a sua própria mão, no final da transcrição da Arte de Trovar (fol. 4v). O texto desta última, que será realmente uma primeira versão (depois modificada e alargada), apresenta variantes muito significativas, estudadas por Pilar Lourenzo Gradín1. Mais recentemente (2024) a questão destas duas rubricas e também da ordem pela qual estes dois lais foram copiados nos cancioneiros foi estudada cuidadosamente por Fabio Barberini2.

References

1 Lourenzo Gradín, Pilar (2013), Los lais de Bretanha: de la compilación en prosa al cancionero, in e-Spania, 16.
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2 Barberini, Fabio (2024), “«Este Lais posemos acá» … Sì, ma dove?", in Medievalista 35 (Janeiro – Junho 2024).
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General note


Description

Lai
Refrão
Cobras singulares
(Learn more)


Manuscript sources

B 2, L 2
(C 2)

Cancioneiro da Biblioteca Nacional - B 2


Musical versions

Originals

Unknown

Contrafactum

Unknown

Modern Composition or Recreation

O Maroot 

Versão de DOA