Afonso Anes do Cotom


Sueir'Eanes, um vosso cantar
nos veo ora um jograr dizer,
e todos forom polo desfazer,
 e punhei eu de vo-lo emparar;
 5 e travarom em que era igual;
e dix'eu que cuidávades em al,
 ca vos vi sempre daquesto guardar.
  
E outro trobador ar quis travar
 em ũa cobra; mais por voss'amor
10emparei-vo-l'eu, nom vistes milhor:
"que a cobra rimava em um lugar";
e diss'el: - Pois por que rimou aqui?
E dix'eu: - De pram, nom diss'el assi,
mais tenho que xi a errou o jograr.
  
15E, amigos, outra rem vos direi:
polo jograr a cantiga dizer
igual, nom dev'o trobador a perder,
eu por Sueir'Eanes vo-lo hei:
ca dê'lo dia em que el trobou
20nunca cantar [i]gual fez nem rimou,
ca todos os seus cantares eu sei.



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Nota geral:

Este Sueiro Eanes é uma personagem que aparece satirizada por vários outros trovadores, quase sempre, como aqui, a propósito dos péssimos cantares que faria (dos quais nenhum nos chegou). Nesta cantiga, em que, para além da qualidade das trovas, se coloca a questão do plágio, Cotom toma aparentemente a defesa de Sueiro Eanes, acusando um seu jogral de lhe alterar os cantares - o que é sobretudo uma subtil e irónica maneira de insinuar que, se eles têm alguma coisa que se aproveite, o facto se fica a dever exatamente a essas alterações feitas pelo jogral.



Nota geral


Descrição

Escárnio e Maldizer
Mestria
Cobras singulares
(Saber mais)


Fontes manuscritas

B 1585, V 1117

Cancioneiro da Biblioteca Nacional - B 1585

Cancioneiro da Vaticana - V 1117


Versões musicais

Originais

Desconhecidas

Contrafactum

Desconhecidas

Composição/Recriação moderna

Desconhecidas