João Baveca


Estavam hoje duas soldadeiras
dizendo bem, a gram pressa, de si,
e viu a ũa delas as olheiras
de sa companheira, e diss'assi:
5- Que enrugadas olheiras teendes!
E diss'a outra: - Vós com'ar veedes
desses ca[belos sobr'essas trincheiras]?
  
E ..............................................
.................................................
10.................................................
 .............. en'esse rostro. E des i
diss'el'outra vez: - Já vós doit'havedes;
mais tomad'aquest'espelh'e veeredes
tôdalas vossas sobrancelhas veiras.
  
15E ambas elas eram companheiras,
 e diss'a ũa em jogo outrossi:
 - Pero nós ambas somos muit'arteiras,
 milhor conhosc'eu vós ca vós [a] mim.
E diss'[a] outra: - Vós que conhocedes
20a mim tam bem, porque nom entendedes
como som covas essas caaveiras?
  
 E depois tomarom senhas masseiras
e banharom-se e loavam-s'assi;
e quis Deus que, nas palavras primeiras
25que houverom, que chegass'eu ali;
e diss'a ũa: - Mole ventr'havedes;
e diss'a outr': - E vós mal o 'scondedes,
as tetas que semelham cevadeiras.



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Nota geral:

Uma das mais originais composições dos cancioneiros, infelizmente em muito mau estado nos manuscritos. Trata-se do relato de uma alegada conversa entre duas soldadeiras, que João Baveca teria surpreendido, no banho, a compararem os respetivos atributos físicos, sem grandes indulgências de parte a parte.



Nota geral


Descrição

Cantiga de Escárnio e maldizer
Mestria
Cobras uníssonas
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Fontes manuscritas

B 1458, V 1068

Cancioneiro da Biblioteca Nacional - B 1458

Cancioneiro da Vaticana - V 1068


Versões musicais

Originais

Desconhecidas

Contrafactum

Desconhecidas

Composição/Recriação moderna

Desconhecidas