Martim Soares


Senhor, pois Deus nom quer que mi queirades
creer a coita que me por vós vem,
por Deus, creede ca vos quero bem
e jamais nunca m'outro bem façades;
5e se mi aquesto queredes creer,
poderei eu mui gram coita perder;
e vós, senhor, nom sei que i perçades
  
em guarirdes voss'homem, que matades,
e que vos ama mais que outra rem;
10por mim vos digo, que nom acho quem
me dê conselho, nem vós nom mi o dades.
Pero Deus sabe quam de coraçom
hoj'eu vos amo e, se El me perdom,
desamo mi porque me desamades,
  
 15per bõa fé, mia senhor; e sabiades
ca por aquest'hei perdudo meu sem;
mais se Deus quiser que vos dig'alguém
quam bem vos quero e que o vós creades,
poderei eu meu sem cobrar des i;
20e se a vós prouguer que seja assi,
sempre por en bõa ventura hajades.



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Nota geral:

O trovador pede à sua senhora que, pois não quer acreditar no seu sofrimento, pelo menos acredite que ele a ama, e nada mais lhe pedirá. Se ela o acreditar, decerto o sofrimento dele será menor.
Recorrendo em seguida ao contexto feudal, acrescenta que ela nada perderá salvando o seu vassalo (o voss´homem). Um vassalo que a ama e que - Deus lhe perdoe - começa mesmo a não gostar de si próprio, já que também ela não gosta. Na última estrofe, afirmando que perdeu a razão, agarra-se à esperança de alguém poder eventualmente convencê-la do bem que lhe quer - o que, a acontecer, o salvaria, e o levaria a ficar-lhe eternamente grato.



Nota geral


Descrição

Cantiga de Amor
Mestria
Cobras uníssonas (rima c singular)
(Saber mais)


Fontes manuscritas

A 52, B 164

Cancioneiro da Ajuda - A 52

Cancioneiro da Biblioteca Nacional - B 164


Versões musicais

Originais

Desconhecidas

Contrafactum

Desconhecidas

Composição/Recriação moderna

Desconhecidas