Nuno Anes Cerzeo


Quer'eu agora já dizer
o que nunca dizer cuidei,
com sanha: porque moir'assi,
e porque me vejo perder.
5E que mi val d'assi morrer?
 Nulh'homem nom se dol de mi,
nem sab'a coita que eu hei;
nen'a dig'eu a mia senhor!
  
Provar quer'eu de lho dizer,
10a mia senhor, aqueste bem
que lhi quer'e que nom há par,
camanho [lhe] posso querer.
Pero que sem cuid'a fazer
por em tam gram vergonh'entrar,
15de lhi haver a dizer en,
quand'eu ant'os seus olhos for?
  
Em mui gram coita per serei,
se lh'eu m[i]a fazenda disser
e m'ela dos olhos catar.
20Nostro Senhor, e que farei?
Conselho nom me saberei
com medo de xi m'assanhar;
pero faça como quiser,
ca mais nom ous'assi viver!
  
25Mui sem ventura per serei,
se lho agora já negar,
pois vejo que moiro d'amor.
E mais por que lho negarei?
Ou que é o que temerei?
30Ca já me nom pode maior
mal fazer, nem se me matar,
daqueste que me faz haver.
  
Todo o mund'eu leixarei
e perder-m'-ei, u nom há al,
35se m'ela de si alongar.



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Nota geral:

O trovador relata, ao longo da cantiga, o debate interior que o ocupa: deve ou não deve confessar o seu amor à sua senhora? Decidido a falar porque se sente morrer (e sem que ninguém desconfie do seu estado, nem mesmo ela), logo hesita: como ultrapassar a vergonha de enfrentar o seu olhar? Em tal situação, decerto que a sua aflição será grande. E se ela se zangar? Bom, faça ela o que fizer, continuar assim é que já não lhe é mais possível. De resto, por que se há-de continuar a esconder? Ou de que é que tem medo? Maior mal do que o mal que ela lhe faz passar no presente não pode ter. Mas perder-se-á de vez se ela o mandar afastar-se.



Nota geral


Descrição

Cantiga de Amor
Mestria
Cobras doblas
Palavra(s)-rima: (v. 1 de cada estrofe)
dizer (I, II), per serei (III, IV)
Palavra perduda: v. 8 de cada estrofe
Finda
(Saber mais)


Fontes manuscritas

B 131

Cancioneiro da Biblioteca Nacional - B 131


Versões musicais

Originais

Desconhecidas

Contrafactum

Desconhecidas

Composição/Recriação moderna

Desconhecidas