João Airas de Santiago


Dizem, amigo, que outra senhor
 queredes vós sem meu grado filhar
por mi fazerdes com ela pesar,
mais, a la fé, nom hei end'eu pavor,
5       ca já todas sabem que sodes meu
       e nẽũa nom vos querrá por seu.
  
Faríades-mi vós de coraçom
este pesar, mais nom sei hoj'eu quem
me vos filhass', e já vos nom val rem,
10ai meu amigo, vedes por que nom:
       ca já todas sabem que sodes meu
       e nẽũa nom vos querrá por seu.
  
E quem vos a vós esto conselhou
mui bem sei [eu] ca vos conselhou mal
15e com tod'esso já vos rem nom val,
ai meu amigo, tardi vos nembrou:
       ca já todas sabem que sodes meu
       e nẽũa nom vos querrá por seu.
  
Cofonda Deus a que filhar o meu
20amig', e mim, se eu filhar o seu.



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Nota geral:

Ouvindo dizer que o seu amigo tenciona arranjar uma outra, apenas para lhe causar ciúmes, a donzela garante-lhe que nenhuma se prestará a tal jogo, pois todas sabem já que ele é dela. Os que lhe aconselharam tal coisa não sabiam o que diziam, e, de resto, agora é tarde. De qualquer forma, na finda ela amaldiçoa qualquer uma que tente roubar-lhe o amigo (situação que, de resto, acontece numa outra cantiga do trovador), tal como espera que Deus a amaldiçoe se algum dia se dispuser a roubar o amigo de alguém.
Num movimento raro e original, o trovador Pero Anes Marinho responde, na sua única cantiga (de amor) conservada, a estas acusações (em circunstâncias difíceis de apurar)



Nota geral


Descrição

Cantiga de Amigo
Refrão
Cobras singulares
Finda
(Saber mais)


Fontes manuscritas

V 594
(C 1004)

Cancioneiro da Vaticana - V 594


Versões musicais

Originais

Desconhecidas

Contrafactum

Desconhecidas

Composição/Recriação moderna

Desconhecidas