Paio Gomes Charinho


Que muitas vezes eu cuido no bem
que meu amigo mi quer e no mal
que lhi por mi de muitas guisas vem!
Mais, quand'aquesto cuid', ar cuid'eu al:
5       se mi quer bem, que lho quer'eu maior,
       e, se lhi vem mal, que é por senhor.
  
E, pois assi [é], que razom diria
por que nom sofra mal? Nom há razom;
e, u eu cuido que nom poderia
10- tam gram bem mi quer -, cuido log'entom,
       se mi quer bem, que lho quer'eu maior,
       e, se lhi vem mal, que é por senhor.
  
E por tod'esto dev'el a sofrer
tod'aquel mal que lh'hoje vem por mi,
15pero cuido que nom pode viver
- tam gram bem mi quer -, mais [cuido] log'i,
       se mi quer bem, que lho quer'eu maior,
       e, se lhi vem mal, que é por senhor.



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Nota geral:

As palavras desta voz feminina constituem uma resposta não só à voz masculina das cantigas de amor de Paio Gomes Charinho, mas, genericamente, aos tópicos habituais do género, repetidos à exaustão por todos os trovadores. A voz que ouvimos é, pois, agora, a da senhora (como, aliás, ela deixa claro no refrão), reagindo ao que ouve do seu amigo/ trovador e refletindo na posição a tomar.
Diz-nos ela, pois, que muitas vezes pensa no amor que ele lhe tem e nos sofrimentos que ele suporta por sua causa (pensa com alguma piedade, pressupõe-se). Mas logo assume o papel que crê ser o seu: quanto ao amor que ele lhe vota, o seu por ele é bem maior; e quanto ao sofrimento, é normal que assim sofra quem ama uma senhora. Esse é o papel masculino, o de morrer de amor, e, embora por vezes ela se sinta prestes a ceder, não há razão para que deixe de ser assim.



Nota geral


Descrição

Cantiga de Amigo
Refrão
Cobras singulares
(Saber mais)


Fontes manuscritas

B 839, V 425

Cancioneiro da Biblioteca Nacional - B 839

Cancioneiro da Vaticana - V 425


Versões musicais

Originais

Desconhecidas

Contrafactum

Desconhecidas

Composição/Recriação moderna

Desconhecidas