Paio Gomes Charinho


Senhor fremosa, pois que Deus nom quer,
nem mia ventura, que vos eu veer
possa, convém-m'hojemais a sofrer
todas las coitas que sofrer poder
5por vós; e quero já sempre coidar
em qual vos vi, e tal vos desejar
tôdolos dias em que eu viver.
  
E morte assi venha quando vẽer!
Ca desejos nom hei eu de perder
10da mansedume e do bom parecer
e da bondade, se eu bem fezer,
que em vós há; mais quer'a Deus rogar
que me leixe meu temp'assi passar,
desejando qual vos vi, e sofrer.
  
15Ca em desejos é tod'o meu bem.
E dizem outros que ham mal, senhor,
desejando; mais eu filh'i sabor,
ca desejo qual vos vi e por en
vivo, ca sempre cuid'em qual vos vi
20e atal vos desejei des ali
e desejarei mentr'eu vivo for.
  
Ca sem desejos nunca eu vi quem
podess'haver tam verdadeir'amor
como hoj'eu hei, nem fosse sofredor
25do que eu sofr'; e esto me mantém:
grandes desejos que hei. E assi
quero viver; e o que for de mi
seja, ca esto tenh'eu por melhor:
  
desejar sempre; ca des que nom vi
30vós nom vivera rem do que vivi:
senom coidando em qual vos vi, senhor.



 ----- Aumentar letra ----- Diminuir letra

Nota geral:

Impedido de ver a sua senhora, o trovador diz-lhe o que fará: suportará a dor que a sua ausência lhe causa, mas, sobretudo, pensando na sua imagem, não deixará de a desejar a cada minuto da sua vida. Contra os que dizem que o desejo os faz sofrer, o trovador faz aqui a sua defesa: o desejo é tudo o que lhe resta, pensar na sua senhora e desejá-la é, não só um gosto, mas aquilo que o fez e faz viver.



Nota geral


Descrição

Cantiga de Amor
Mestria
Cobras doblas
Finda
(Saber mais)


Fontes manuscritas

A 252

Cancioneiro da Ajuda - A 252


Versões musicais

Originais

Desconhecidas

Contrafactum

Desconhecidas

Composição/Recriação moderna

Desconhecidas