Pero da Ponte


Eu, em Toledo, sempr'ouço dizer
que mui maa [vila] de pescad'é;
mais non'o creo, per bõa fé,
 ca mi fui eu a verdad'en saber:
5ca, noutro dia, quand'eu entrei i,
bem vos juro que de mia vista vi
 a Peixota su u[m] leito jazer.
  
Endõado bem podera haver
Peixota quen'a quisesse filhar,
 10ca non'a vi a nulh'home aparar;
e ũa cousa vos quero dizer
(tenh'eu por mui bõa vileza assaz):
ũa Peixota su o leito jaz
e sol nulh'home non'a quer prender.
  
15E se de mim quiserdes aprender
 qual part'há de cima em esta sazom,
 non'[a] há i, sol lhis vem i salmom;
mais pescad'outro, pera despender,
mui rafec'é, por vos eu nom mentir:
20ca vi eu a Peixota remanir
i sô um leit', assi Deus mi perdom.



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Nota geral:

Maliciosa cantiga, em forma de cerrado equívoco à volta da questão do peixe em Toledo. Pero da Ponte admira-se de ter visto uma peixota (um peixe comum) abandonada debaixo de uma cama, e à mão de semear, quando sempre lhe tinham dito que o peixe era raro na cidade. E ainda que fosse uma peixota ordinária (de facto, como peixe decente, só têm o salmão), escandaliza-se pelo esbanjamento. Há, claramente, um segundo sentido na composição, que teria a ver com um episódio concreto que desconhecemos. Mas, de qualquer forma, podemos depreender que alguém se esconderia debaixo de uma cama, Peixota podendo ser, com toda a probabilidade, o nome de uma soldadeira. Acrescente-se que Pero da Ponte retoma este mesmo jogo com os termos peixota e salmão numa outra cantiga.



Nota geral


Descrição

Cantiga de Escárnio e maldizer
Mestria
Cobras singulares (rima a uníssona)
(Saber mais)


Fontes manuscritas

B 1653, V 1187

Cancioneiro da Biblioteca Nacional - B 1653

Cancioneiro da Vaticana - V 1187


Versões musicais

Originais

Desconhecidas

Contrafactum

Desconhecidas

Composição/Recriação moderna

Desconhecidas