Caldeirom
Jogral medieval


Nacionalidade: Incerta

Notas biográficas:

Quase nada sabemos sobre este autor, sobre o qual a (pouca) documentação que possuímos parece contraditória. Na verdade, Caldeirom tem sido tradicionalmente identificado como o jogral dos atambores com o mesmo nome mencionado nas contas de Sancho IV de Castela (1294)1. Sendo certo, no entanto, que este tipo de jograis, considerados hierarquicamente inferiores, não parecem ter sido compositores, é possível que esta identificação não seja segura. Neste sentido, mais recentemente, Ron Fernández localizou no Repartimento de Valencia (1239-1240) um Calderon, aí beneficiado, personagem que este investigador pensa poder ser o nosso autor2. Embora esta cronologia mais recuada aparentemente contradiga a colocação da obra de Caldeirom nos cancioneiros, onde nos surge na parte final das cantigas satíricas, também é possível que seja este um caso de um autor acrescentado à recolha primitiva numa fase ulterior. Para complicar a questão, acrescente-se que, sendo certo que parece estarmos efetivamente perante um jogral, deve notar-se que o apelido Calderón foi usado também por uma linhagem de infanções de Navarra3, aparecendo o seu eventual fundador, Fortun Ortiz de Calderón, senhor de Nograro, entre os beneficiados no repartimento de Úbeda e Baeza (1238).
De resto, se é certo que uma das suas cantigas (onde nos informa, aliás, ter vindo da Galiza, eventualmente de uma qualquer viagem), contém alusões políticas muito concretas, elas são, infelizmente, bastante difíceis de situar, não só pelo péssimo estado da composição nos manuscritos, mas também pelo facto de os conflitos entre os reinos peninsulares nela referidos (de Castela com Catalães e Aragoneses, como parece ser o caso) terem sido muito frequentes ao longo do século XIII, o que nos impede de termos certezas quanto à sua cronologia. Damos, na Nota Geral a essa mesma cantiga, uma sugestão a este respeito, mas que é meramente hipotética.
Acrescente-se ainda que, tendo em conta os inúmeros provençalismos presentes nessa mesma cantiga, D. Carolina Michaelis4 aventou a hipótese de Caldeirom ser de origem aragonesa, o que talvez não se coadune bem com o retrato pouco favorável que traça dos próprios aragoneses na referida composição.


Referências

1 Oliveira, António Resende de (1994), Depois do espectáculo trovadoresco. A estrutura dos cancioneiros peninsulares e as recolhas dos séculos XIII e XIV, Lisboa, Edições Colibri, p. 326.

2 Ron Fernández, Xavier (2005), “Carolina Michaelis e os trobadores representados no Cancioneiro da Ajuda”, in Carolina Michaelis e o Cancioneira da Ajuda hoxe, Santiago de Compostela, Xunta de Galicia, p. 181.
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3 Dacosta, Arsenio, "De la conciencia del linaje a la defensa estamental. Acerca de algunas narrativas nobiliarias vascas", Medievalista online, 8, Julho - Dezembro de 2010..
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4 Vasconcelos, Carolina Michaëlis de (1990), Cancioneiro da Ajuda, vol. II, Lisboa, Imprensa nacional - Casa da Moeda (reimpressão da edição de Halle, 1904).

Ler todas as cantigas (por ordem dos cancioneiros)


Cantigas (por ordem alfabética):


Os d'Aragom, que soem donear
Cantiga de Escárnio e maldizer


Autoria duvidosa:


Ũa donzela coitado
Cantiga de Escárnio e maldizer