Paio de Cana
Trovador medieval


Nacionalidade: Galega

Notas biográficas:

Clérigo de Santiago de Compostela, pertencente a uma família bem implantada nesta cidade, mas cuja cronologia tem levantado algumas dúvidas, até por desconhecermos o seu patronímico. Segundo dados avançados, já no início do século XX, por López Ferreiro, poderia tratar-se do filho ou do irmão de Pero Arias da Cana, burguês de Santiago que teria vivido por meados do século XIII; mas poderia tratar-se igualmente, como sugere Resende de Oliveira1, do Pai da Cana mencionado, como já falecido, em 1348, no testamento de D. Nuno Gonçalves de Bendaña, que manda entregar aos seus filhos certa quantia em dinheiro.
Recentemente, no entanto, José António Souto Cabo2, analisando mais demoradamente a documentação compostelana referente a membros desta família, localizou, num documento datado de 1243, um Pelagius Petri, dictus de Cana que identifica como o nosso autor (cujo nome completo seria, pois, Paio Peres de Cana). De resto, elaborando um breve esquema genealógico a partir dos indivíduos mencionados na documentação, Souto Cabo crê que o Paio da Cana referido no citado testamento de 1348 (com filhos, o que parece, desde logo, contrariar a sua qualidade de clérigo), seria, na verdade, um sobrinho do trovador (este de patronímico Airas, tal como referido noutros documentos das primeiras décadas do século XIV). Acrescente-se que da mesma árvore genealógica resulta também que igualmente sobrinha do trovador seria a Mor (Airas) da Cana com quem João Airas de Santiago brinca maliciosamente numa sua cantiga (e não irmã, como D. Carolina Michaelis3 já tinha sugerido).
Mais recentemente ainda, Souto Cabo4 localizou novos documentos que indicam que Paio Peres de Cana foi igualmente, já numa fase adiantada da sua vida, abade de Valladolid, cargo que ocupou entre 1281-1283, tendo-se refugiado em Sevilha por alturas da sublevação do infante Sancho contra Afonso X, e estando presente no ato pelo qual este monarca deserdou o infante. Ou seja, no que diz respeito ao nosso trovador, Paio Peres da Cana, terá desenvolvido a sua atividade em por volta dos anos 1245-1283, o que, de resto, se coaduna com a cronologia dos clérigos-trovadores que o rodeiam nos cancioneiros.


Referências

1 Oliveira, António Resende de (1994), Depois do espectáculo trovadoresco. A estrutura dos cancioneiros peninsulares e as recolhas dos séculos XIII e XIV, Lisboa, Edições Colibri.

2 Souto Cabo, José António (2011), "In capella domini regis, in Ulixbona e outras nótulas trovadorescas", in Actas del XIV Congreso de la Asociación Hispánica de Literatura Medieval, Murcia, setembro de 2011.
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3 Vasconcelos, Carolina Michaëlis de (1990), Cancioneiro da Ajuda, vol. II, Lisboa, Imprensa nacional - Casa da Moeda (reimpressão da edição de Halle, 1904).

4 Souto Cabo, José António (2012), "En Santiago, seend’ albergado en mia pousada. Nótulas trovadorescas compostelanas", in Verba, 39.
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Amiga, o voss'amigo
Cantiga de Amigo

Vedes que gram desmesura
Cantiga de Amigo