Anónimo 2 - Todas as cantigas

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Cancioneiros:

A 180

Descrição:

Cantiga de Amor

Fragmento

[...] que me vós nunca quisestes fazer,
em que me vistes, de me mal querer.
  
Por Deus e por mesura e por mi,
dizede-m'esto que vos vim rogar!
5E tal rogo nom vos dev'a pesar,
e terrei que me fazedes bem i.
Por aquesto que vos rogo, senhor,
dizede-mi-o, ca vos nom jaz i mal,
nem vos rog'eu que me digades al,
10e terrei que me fazedes amor.
  
E vedes por que o quero saber:
por me guardar de vos pesar fazer.
15


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Cancioneiros:

A 181

Descrição:

Cantiga de Amor

Refrão

Que sem meu grado m'hoj'eu partirei
de vós, senhor, u me vos espedir!
Como partir-me de quanto bem hei,
e saber bem ca, des que vos nom vir,
5       ca nunca já poderei gram prazer,
       u vos nom vir, de nulha rem veer?
  
Porque entendo que vos prazerá,
m'haverei ora de vós a quitar;
mais nunca hom'em tal coita será
10com'eu serei, mentre sem vós morar:
       ca nunca já poderei gram prazer,
       u vos nom vir, de nulha rem veer!
  
E rog'eu Deus que tam de coraçom
me vos fez amar, des quando vos vi,
15que El me torn'em algũa sazom
u vos eu veja; ca bem sei de mi
       ca nunca já poderei gram prazer,
       u vos nom vir, de nulha rem veer!


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Cancioneiros:

A 182

Descrição:

Cantiga de Amor

Refrão

Per mi sei eu o poder que Amor
há sobr'aqueles que tem em poder,
ca me faz el tam coitado viver
que muit há i que houvera sabor
5       que me matasse; mais por me leixar
       viver em coita, nom me quer matar.
  
Porque sei eu que faz el outrossi
aos outros, que em seu poder tem,
com'a mi faz, por en me fôra bem,
10per bõa fé, des que o entendi,
       que me matasse; mais por me leixar
       viver em coita, nom me quer matar.
  
Porque sei bem que nunca prenderei
dela prazer per el nulha sazom,
15por en querria, si Deus me perdom!,
o que vos digo, por esto que sei,
       que me matasse; mais por me leixar
       viver em coita, nom me quer matar.


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Cancioneiros:

A 183

Descrição:

Cantiga de Amor

Mestria

Dizem-mi as gentes por que nom trobei
há gram sazom, e maravilham-s'en;
mais nom sabem de mia fazenda rem;
ca se bem soubessem o que eu sei,
5maravilhar-s'-iam logo per mi,
de como viv'e de como vivi
e, se mais viver, como viverei!
  
Mais non'o sabem, nem lhe-lo direi,
enquant'eu viva já, per nẽum sem;
10mais calar-m'-ei com quanto mal me vem
e sempr'assi mia coita sofrerei;
ca eu nom quero mia coita dizer
a quem sei bem ca nom mi há de poer
conselho mais do que m'eu i porrei.
  
15E o conselho já o eu filhei
que eu i porrei: ca 'ssi me convém
morrer coitado, como morre quem
nom há conselho, com'hoj'eu nom hei.
E esta morte melhor me será
20ca de viver na coita que nom há
par, nen'a houve nunca, eu o sei.
  
E melhor est, e mais será meu bem,
de morrer ced', e nom saberem quem
é por quem moir'e que sempre neguei.


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Cancioneiros:

A 184, B 677, V 279

Descrição:

Cantiga de Amor

Refrão

Muitos vej'eu que se fazem de mi
sabedores que o nom som, de pram,
nen'o forom nunca, nen'o seram;
e pois que eu deles estou assi,
5       nom sabem tanto que possam saber
       qual est a dona que me faz morrer.
  
Ca sempre m'eu de tal guisa guardei
que nom soubessem meu mal nem meu bem,
e fazem-s'ora sabedores en;
10mais, pero cuidam saber quant'eu sei,
       nom sabem tanto que possam saber
       qual est a dona que me faz morrer.
  
Digam-x'andando quis o que quiser,
ca me sei eu como deles estou:
15bem, grad'a Deus, que m'end'assi guardou
que, se s'aquesto per mi nom souber,
       nom sabem tanto que possam saber
       qual est a dona que me faz morrer.
  
E muito sabem, se nunca saber
20o per mi podem, nem per lh'eu dizer!