João Airas de Santiago


Dizem, senhor, que nom hei eu poder
de veer bem e, por vos nom mentir,
gram verdad'é, quand'eu alhur guarir
hei sem vós, que nom posso bem haver;
5       mais, mia senhor, direi-vos ũa rem:
       pois eu vos vejo, muito vejo bem.
  
 Travam em mim e em meu conhocer
e dizem que nom vejo bem, senhor,
e verdad'é, seed'en sabedor,
10u eu alhur sem vós hei de viver;
       mais, mia senhor, direi-vos ũa rem:
       pois eu vos vejo, muito vejo bem.
  
D'haver bem nom me quero eu creer
e, mia senhor, quero-vos dizer al:
15vejo mui pouco e sei que vejo mal
u nom vejo vosso bom parecer;
       mais, mia senhor, direi-vos ũa rem:
       pois eu vos vejo, muito vejo bem.



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Nota geral:

Nesta heterodoxa cantiga, João Airas, dirigindo-se à sua senhora, aproveita a sua própria miopia para fazer um jogo com as palavras e a sintaxe que poderemos resumir assim: eu vejo mal, mas, quando vos vejo, vejo (o) bem.
Como acontece com algumas outras composições dos Cancioneiros, esta cantiga situa-se, pois, numa zona de fronteira entre géneros: cantiga de amor pela forma, mas jocosa pelo equívoco que a constrói e pela auto-ironia que dele resulta. Acrescente-se ainda que encontramos uma razom semelhante numa cantiga de João Garcia de Guilhade. As incertezas sobre a cronologia exata dos dois trovadores (sendo que Guilhade parece ser mais velho) não nos permitem, no entanto, estabelecer uma relação direta entre as duas composições.



Nota geral


Descrição

Cantiga de Amor
Refrão
Cobras rima a uníssona, rima b singular
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Fontes manuscritas

B 944, V 532

Cancioneiro da Biblioteca Nacional - B 944

Cancioneiro da Vaticana - V 532


Versões musicais

Originais

Desconhecidas

Contrafactum

Desconhecidas

Composição/Recriação moderna

Desconhecidas