João Soares Somesso


Senhor fremosa, fui buscar
conselh'e non'o pud'haver
contra vós, nem me quis valer
Deus, a que fui por en rogar.
5E pois conselho nom achei
e em vosso poder fiquei,
nom vos pês já de vos amar,
  
por Deus; e se vos en pesar,
nom mi o façades entender,
10e poder-m'-edes defender
 de gram coita, por mi o negar.
E mia fazenda vos direi:
por bem pagado me terrei,
se me quiserdes enganar.
  
15Tam vil vos serei de pagar,
se o vós quiserdes fazer,
por Deus, que vos tem em poder;
ou se me quiserdes matar,
poderedes, ca me nom sei
20conselh'haver, nem viverei
per bõa fé, se vos pesar.
  
A gram coita me faz jurar,
d'amor, que nom posso sofrer;
e faz-mi a verdade dizer
25(de que eu nunc'ousei falar)
da gram coita que por vós hei;
mais vejo já que morrerei,
e quero m'ant'aventurar.



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Nota geral:

Tendo procurado em vão escapar ao amor, e sem que nem mesmo Deus lhe valesse, o trovador dirige-se agora à sua senhora formosa, confessando-lhe os seus sentimentos e pedindo-lhe que não fique desagradada com o seu amor. Mas, se ficar, ele pede-lhe que ao menos tente esconder esse desagrado, de forma a não o fazer sofrer, sublinhando que ficará inteiramente satisfeito se ela lhe mentir. De resto, nada lhe custará fazê-lo (ele contenta-se com pouco); mas, se preferir, também o poderá matar, porque está completamente nas suas mãos. Na última estrofe, ele justifica o discurso anterior: é porque não aguenta mais o sofrimento que ele decidiu aventurar-se a confessar-lhe o seu amor.
Note-se que esta "mentira piedosa" que o trovador pede aqui à sua senhora não deixa de ser um motivo original no universo das cantigas de amor.



Nota geral


Descrição

Cantiga de Amor
Mestria
Cobras uníssonas
(Saber mais)


Fontes manuscritas

A 24, B 117

Cancioneiro da Ajuda - A 24

Cancioneiro da Biblioteca Nacional - B 117


Versões musicais

Originais

Desconhecidas

Contrafactum

Desconhecidas

Composição/Recriação moderna

Desconhecidas