Diogo Moniz


Deus! que pouco que sabia
eu em qual viço vivia
quand'era [c]om mia senhor!
E que muito me queixava
5dela, porque nom pensava
de mim, e nom gradecia
a Deus qual bem mi fazia
 em sol me leixar veer
o seu mui bom parecer!
  
10Mais em gram sandez andava
eu, quando me nom pagava
de com tal senhor viver!
E que melhor bem querria?
Ah, m'end'ora pagaria!
15Mais esto a mim quem mi o dava,
este bem, que nom m'entrava?
Non'o houvess'hoj'eu melhor
 e vivess'em tal sabor!
  
Mais logo m'ar mataria
 20um cor, que hei, de folia
mui comprid[o] e d'amor,
que per poucas m'ar matava
quand'eu mia senhor catava:
em tal coita me metia
25que conselho nom sabia
eu de mim, como fazer
por dela mais bem haver!
  
Mais se eu nunca cobrava
o viç'em que ant'estava,
30saber-lh'-ia bem sofrer
seu amor! E nembrar-m'-ia
que [sem] ela nom podia
viver, quand'alhur morava:
tam muito a desejava!
35Mais eu com este pavor
seria bom sofredor!



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Nota geral:

Afastado da sua senhora, o trovador reflete amargamente no pouco que tinha valorizado o simples facto de antes poder estar perto dela e vê-la. As suas queixas de então parecem-lhe agora insensatas, e daria tudo para regressar a esse tempo. Nas duas estrofes finais ele imagina esse regresso: decerto que, como antes, morreria só de a ver. E embora creia que não seria tão inconscientemente feliz, tem a certeza que desta vez saberia sofrer em silêncio, até porque se lembraria com pavor do seu estado presente.



Nota geral


Descrição

Cantiga de Amor
Mestria
Cobras doblas alternadas
(Saber mais)


Fontes manuscritas

B 8
(C 12)

Cancioneiro da Biblioteca Nacional - B 8


Versões musicais

Originais

Desconhecidas

Contrafactum

Desconhecidas

Composição/Recriação moderna

Desconhecidas