João Vasques de Talaveira


Disserom-mi que havia de mi
o meu amigo queixum'e pesar,
e é tal que me nom sei conselhar;
e, amiga, se lh'eu mal mereci,
5       rog'eu a Deus que o bem que m'el quer
       que o queira ced'a outra molher.
  
E, se el queixume quiser perder,
 que de mim com tort'há, gracir-vo-lh'-ei;
e, amiga, verdade vos direi:
10se lh'hoj'eu queria mal merecer,
       rog'eu a Deus que o bem que m'el quer
       que o queira ced'a outra molher.
  
E fará meu amigo mui melhor
em perder queixume que de mim há,
15e, par Deus, amiga, bem lh'estará;
 ca, se lh'eu fui de mal merecedor,
       rog'eu a Deus que o bem que m'el quer
       que o queira ced'a outra molher.
  
E, se lho el per ventura quiser,
20mal dia eu naci, se o souber.



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Nota geral:

Tendo ouvido dizer que o seu amigo se queixa dela, desgostoso, a donzela jura a uma amiga que, se ela alguma vez lhe deu razões para isso, pedirá a Deus que o amor que ele lhe tem o transfira logo para outra mulher (o que, como se compreende, é uma forma de dizer que essas queixas são totalmente infundadas). De resto, ele está a ser injusto e faria melhor em acabar com tais queixas. Note-se, no entanto que na finda, as palavras que a donzela diz em refrão têm sequência: se ele eventualmente fizer isso (arranjar outra) ela estará desgraçada.
A cantiga tem sequência na seguinte.



Nota geral


Descrição

Cantiga de Amigo
Refrão
Cobras singulares
Finda
(Saber mais)


Fontes manuscritas

B 788, V 372
(C 788)

Cancioneiro da Biblioteca Nacional - B 788

Cancioneiro da Vaticana - V 372


Versões musicais

Originais

Desconhecidas

Contrafactum

Desconhecidas

Composição/Recriação moderna

Desconhecidas