João Soares Coelho


Vedes, amigas, meu amigo vem,
e enviou-mi dizer e rogar
que lh'aguis'eu de comigo falar
  e de tal preito nom sei end'eu rem;
5       e pesa-mi que m'enviou dizer
       que lhi faça o que nom sei fazer.
  
Ca, pero m'end'eu gram sabor houver,
e mui gram coita no meu coraçom
de lho [já] guisar, se Deus mi perdom,
10nom lho guisarei, poi[lo] nom souber;
       e pesa-mi que m'enviou dizer
       que lhi faça o que nom sei fazer.
  
Ca eu nunca com nulh'home falei,
tanto me nom valha Nostro Senhor,
15des que naci, nem ar foi sabedor
de tal fala, nem a fiz, nem a sei;
       e pesa-mi que m'enviou dizer
       que lhi faça o que nom sei fazer.



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Nota geral:

Esta voz feminina é a de uma donzela ingénua, e certamente muito jovem, que vai ter o seu primeiro encontro com o amigo - o primeiro homem com quem vai falar, como nos diz na 3ª estrofe. Assim, ao longo da cantiga, o que ela essencialmente diz às suas amigas é que não faz ideia de como proceder. Desde logo, tendo-lhe ele mandado pedir para preparar o encontro, ela não sabe como fazer (1ª estrofe). Em relação a outros pedidos, o seu desconhecimento é também total: mesmo tendo todo o gosto nisso, como poderá ela fazer o que ele quer, se não faz ideia do que será? (2ª estrofe).
Note-se que este amigo poderia muito bem ser o noivo que os seus parentes lhe teriam arranjado. Neste sentido, a cantiga pode desenhar, de forma bastante realista, uma realidade social tipicamente medieval (o primeiro encontro com o futuro marido de meninas muito jovens, e até então vivendo em exclusivo ambiente doméstico e feminino).



Nota geral


Descrição

Cantiga de Amigo
Refrão
Cobras singulares
(Saber mais)


Fontes manuscritas

B 686, V 288

Cancioneiro da Biblioteca Nacional - B 686

Cancioneiro da Vaticana - V 288


Versões musicais

Originais

Desconhecidas

Contrafactum

Desconhecidas

Composição/Recriação moderna

Desconhecidas