D. Dinis


- Amiga, faço-me maravilhada
como pode meu amigo viver
u os meus olhos nom pode veer
 ou como pod'alá fazer tardada;
 5ca nunca tam gram maravilha vi:
poder meu amigo viver sem mi;
e, par Deus, é cousa mui desguisada.
  
- Amiga, estad[e] ora calada
um pouco, e leixad'a mim dizer:
10per quant'eu sei cert'e poss'entender,
nunca no mundo foi molher amada
come vós de voss'amig'; e assi,
 se el tarda, sol nom é culpad'i;
se nom, eu quer'en ficar por culpada.
  
15- Ai amiga, eu ando tam coitada
que sol nom poss'em mi tomar prazer,
cuidand'em como se pode fazer
que nom é já comigo de tornada;
e, par Deus, porque o nom vej'aqui,
20que é morto gram sospeita tom'i,
e, se mort'é, mal dia eu fui nada.
  
- Amiga fremosa e mesurada,
nom vos dig'eu que nom pode seer
voss'amigo, pois hom'é, de morrer;
 25mais, por Deus, nom sejades sospeitada
doutro mal del, ca des quand'eu naci,
nunca doutr'home tam leal
falar, e quem end'al diz, nom diz nada.



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Nota geral:

Neste vivo diálogo entre a donzela e uma sua amiga, a primeira começa por dar conta à segunda da sua inquietação pelo facto de o seu amigo muito tardar - não é normal que ele possa viver tanto tempo sem a ver. Na resposta, a amiga cala as suas suspeitas e sossega-a: ela tem a certeza absoluta de que ele a ama profundamente e, se não vem, não será por culpa própria. Ao que a donzela contrapõe uma inquietação mais grave: acaso não terá ele morrido? Se assim for, também ela morrerá. De novo a amiga a sossega: não é que ele não possa morrer, uma vez que é humano, mas a donzela deve deixar-se daqueles presságios sem sentido, tentando ser sensata e confiar nele.



Nota geral


Descrição

Cantiga de Amigo
Mestria
Cobras uníssonas
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Fontes manuscritas

B 573, V 177

Cancioneiro da Biblioteca Nacional - B 573

Cancioneiro da Vaticana - V 177


Versões musicais

Originais

Desconhecidas

Contrafactum

Desconhecidas

Composição/Recriação moderna

Desconhecidas