D. Dinis


Pero eu dizer quisesse,
creo que nom saberia
 dizer, nem er poderia,
per poder que eu houvesse,
 5a coita que o coitado
sofre, que é namorado;
nem er sei quem mi o crevesse
  
senom aquel a quem desse
amor coita todavia,
10qual a mim dá noit'e dia;
este cuido que tevesse
que dig'eu muit'aguisado;
ca outr'homem nom é nado
que esto creer podesse.
  
 15E por en quem bem soubesse
esta coita, bem diria,
e sol nom duvidaria,
que coita que Deus fezesse,
nem outro mal aficado,
20nom fez tal, nem é pensado
d'homem que lhi par posesse.



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Nota geral:

Se o argumento geral que D. Dinis expõe nesta cantiga é o de que o sofrimento de amor é o maior dos sofrimentos, o seu desenvolvimento processa-se através de uma tão notável quanto cerrada argumentação, que resumimos, por isso mesmo, muito ao pé da letra.
Diz, pois, o trovador que, ainda que o quisesse, crê que não saberia nem poderia descrever o sofrimento que padece um pobre enamorado; nem ninguém o acreditaria, / senão alguém que também sofresse como ele próprio; esse alguém concordaria que o que ele descreve é muito acertado, coisa em que mais ninguém acreditaria;/ e por isso, quem pudesse, de facto, conhecer plenamente esse sofrimento, acharia, sem qualquer dúvida, que Deus não fez no mundo um sofrimento, ou outra qualquer dor profunda, igual.



Nota geral


Descrição

Cantiga de Amor
Mestria
Cobras uníssonas
(Saber mais)


Fontes manuscritas

B 517b, V 120

Cancioneiro da Biblioteca Nacional - B 517b

Cancioneiro da Vaticana - V 120


Versões musicais

Originais

Desconhecidas

Contrafactum

Desconhecidas

Composição/Recriação moderna

Desconhecidas