Pero Garcia de Ambroa


Grave dia naceu, senhor,
quem se de vós houv'a partir
e se teve por devedor
de vos amar e vos servir
5- como m'eu de vós partirei
ora; quando m'alongarei
de vós, viverei sem sabor.
  
Em tal coita me vi, senhor,
que sol nom vos ousei falar;
10e vós, em lezer e sabor,
havíades de me matar;
 ca me nom quisestes catar
dos olhos, nem [me] preguntar
por que havia tal pavor.
  
15Que sol nom vos ousei dizer
o por que eu fora ali
u vos achei e mais temi
 de vos pesar en ca morrer,
com'ora por vós morrerei;
20e vejo que mal baratei
que ante nom morri log'i.
  
Ca mui maior coita haverei,
  senhor, quand'eu de vós hoer
desamor voss[o] e tever
25este joguete - [e] terrei
convosc[o] e vosso serei
 mentr'eu viver; e guisarei
como haja vosso desamor.
  
[M]entre vos eu poder servir,
30vosso desamor hav[er]ei;
ca nom hei eu a vos fogir,
nem outra senhor filharei
que me de vós possa en partir;
mais leixar-me-vos-ei matar,
35pois m'outro conselho nom sei.



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Nota geral:

Dirigindo-se à sua senhora, o trovador diz que nasceu em triste dia aquele que tiver de se afastar dela, como agora ele tem de fazer. Garantindo que viverá sempre triste, explica em seguida que não lhe confessou o seu amor com medo de a contristar, mas lamentando também que ela nem sequer tenha olhado para ele, decerto por ter gosto em o matar. Mas afirma que prefere ter o seu desamor (e este jogo, ou joguete em que andam) do que afastar-se. Continuará a servi-la, pois, sem pensar em nenhuma outra, e deixará que ela o mate.



Nota geral


Descrição

Cantiga de Amor
Mestria
Cobras singulares
(Saber mais)


Fontes manuscritas

B 73
(C 72)

Cancioneiro da Biblioteca Nacional - B 73


Versões musicais

Originais

Desconhecidas

Contrafactum

Desconhecidas

Composição/Recriação moderna

Desconhecidas