Vasco Peres Pardal


Muito bem mi podia Amor fazer,
 se el quisess', e nom perder i rem;
  mais nom quer el e perç'eu já o sem;
e direi-vo-lo que mi vai fazer:
5       vem log'e faz-m'em mia senhor cuidar,
       e, pois cuid'i muit', ar quer-me matar,
       e mia senhor nom me quer i valer!
  
Faz-mi [gram] mal e nom ous'a dizer,
de muito mal que mi faz, senom bem,
  10e, se al digo, faz-m'esto por en,
 ou se cuido sol de lh'end'al dizer:
       vem log'e faz-m'em mia senhor cuidar
       e, pois cuid'i muit', ar quer-me matar,
       e mia senhor nom me quer i valer!
  
 15E tod'aquesto nom poss'eu sofrer
que já nom moira, ca nom sei eu quem
nom morresse com quanto mal mi vem
d'Amor, que mi faz tanto mal sofrer:
       vem log'e faz-m'em mia senhor cuidar
20       e, pois cuid'i muit', ar quer-me matar
       e mia senhor nom me quer i valer!
  
Mais Amor, que m'or'assi quer matar,
dê-lhi Deus quem lhi faça desejar
algum bem em que nom haja poder.



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Nota geral:

O trovador começa por afirmar que o Amor poderia ser-lhe favorável e nada perder com isso. Em vez disso, faz-lhe perder a razão, levando-o a pensar da sua senhora e querendo-o depois matar, sem que ela lhe queira valer. Fazendo-lhe, pois, muito mal, o trovador não ousa queixar-se, pois se decide fazê-lo, logo o Amor o leva, de novo a pensar na sua senhora. Situação insuportável, que o levará à morte. Na finda, continuando a personalizar o Amor, ele exprime o desejo de que Deus um dia também o faça desejar um favor impossível.



Nota geral


Descrição

Cantiga de Amor
Refrão
Cobras uníssonas
Dobre: (vv.1 e 4 de cada estrofe)
fazer (I), dizer (II), sofrer (III)
Finda
(Saber mais)


Fontes manuscritas

B 453, V 60

Cancioneiro da Biblioteca Nacional - B 453

Cancioneiro da Vaticana - V 60


Versões musicais

Originais

Desconhecidas

Contrafactum

Desconhecidas

Composição/Recriação moderna

Desconhecidas