João Soares Coelho


Eu me coidei, u me Deus fez veer
esta senhor, contra que me nom val,
que nunca me dela verria mal:
tanto a vi fremoso parecer,
5e falar mans', e fremos'e tam bem
 e tam de bom prez e tam de bom sem
que nunca dela mal cuidei prender.
  
 Esto tiv'eu que m'havi'a valer
contra ela, e todo mi ora fal,
 10e de mais Deus; e viv'em coita tal
qual poderedes mui ced'entender
per mia morte, ca moir'e praze-m'en.
E d'al me praz: que nom sabem por quem,
nen'o podem jamais per mi saber!
  
 15Pero vos eu seu bem queira dizer
todo, nom sei, pero convosc'em al
 nunca fale. Mais fezo-a Deus qual
El melhor soube no mundo fazer.
Ainda vos al direi que lh'avém:
20todas as outras donas nom som rem
contra ela, nem ham já de seer.
  
E esta dona, poilo nom souber,
nom lhe podem, se torto nom houver,
Deus nem ar as gentes culpa põer.
  
 25Maila mia ventur'e aquestes meus
 olhos ham i grande culpa e [ar] Deus
que me fezerom tal dona veer.



 ----- Aumentar letra ----- Diminuir letra

Nota geral:

O trovador começa por dizer que, ao ver pela primeira vez a sua senhora, nunca pensou que dela lhe pudesse vir qualquer mal, pois o que nela viu foi beleza, uma falar suave, formoso e acertado, honra e sensatez. Qualidades que o protegeriam, pensava, mas que agora de nada lhe valem (como Deus não lhe vale), já que vive em tal sofrimento que só deseja morrer. Se essa ideia o alegra, igualmente se alegra por ninguém saber quem é a senhora, cuja identidade nunca revelará. Na 3ª estrofe, o trovador retoma o seu elogio, mas dizendo apenas que, embora não fale em mais nada, nunca poderá louvar cabalmente as suas (infinitas) qualidades, que resume dizendo que Deus a fez como a melhor coisa que soube fazer no mundo, e que, ao lado dela, todas as outras nada são nem nada jamais serão.
Na 1ª finda, ele descarta qualquer responsabilidade da mesma senhora no seu sofrimento, já que ela desconhece totalmente a situação. Os verdadeiros culpadas, acrescenta na 2ª finda, são quem permitiu que ele a visse: a sua (má) sorte, os seus olhos e Deus.



Nota geral


Descrição

Cantiga de Amor
Mestria
Cobras doblas
Finda (2)
(Saber mais)


Fontes manuscritas

A 161

Cancioneiro da Ajuda - A 161


Versões musicais

Originais

Desconhecidas

Contrafactum

Desconhecidas

Composição/Recriação moderna

Desconhecidas